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Linha do tempo: Anos e anos de conflitos políticos no Sudão

Protesto contra o acordo de governo civil-militar no Sudão, na capital Cartum, em 6 de abril de 2023 [Mahmoud Hjaj/Agência Anadolu]
Protesto contra o acordo de governo civil-militar no Sudão, na capital Cartum, em 6 de abril de 2023 [Mahmoud Hjaj/Agência Anadolu]

Conflitos eclodiram na capital sudanesa, Cartum, neste sábado (15), entre as Forças Armadas e grupos paramilitares. Em comunicado, as Forças de Suporte Rápido (FSR) acusaram o exército de conduzir um “ataque brutal” contra diversas localidades.

Pouco depois, o grupo armado – formado em meio a um acordo com o governo transicional do Sudão – alegou capturar o aeroporto da capital, o palácio presidencial, a residência do chefe do exército e a base militar de Merowe, no norte do país. Em meio à escalada, Mohamed Hamdan Dagalo (Hemedti), chefe das Forças de Suporte Rápido, em entrevista à Al Jazeera, descreveu o general Abdel Fattah al-Burhan, comandante máximo do exército, como corrupto e criminoso, ao prometer encerrar o conflito em poucos dias.

Hemedti é vice de al-Burhan na presidência do Conselho Transicional Soberano, que governa o Sudão conforme o “acordo de paz”.

O exército classificou o grupo como “rebelde” e negou a tomada de localidades estratégicas na capital. Segundo relatos, as Forças Armadas executaram uma série de ataques aéreos contra bases da coalizão paramilitar nos bairros de Riyahd e Bahri, na região leste e norte de Cartum.

LEIA: Militares e paramilitares entram em confronto na capital sudanesa

A disputa eclodiu na quinta-feira (13), quando o exército acusou o grupo subjacente a agir sem coordenação e de maneira ilegal, em meio a divergências contundentes sobre as promessas de transição do governo a um regime civil. O Sudão não tem governo funcional desde outubro de 2021, quando forças de al-Burhan depuseram o então primeiro-ministro Abdalla Hamdok, ao declarar “estado de emergência”.

O período transicional do Sudão teve início em agosto de 2019 e estava previsto para culminar em eleições no começo do próximo ano.

Confira abaixo uma linha do tempo sobre as tensões políticas no Sudão:

19 de dezembro de 2018 – Centenas protestam na cidade de Atbara, no norte do país, contra o aumento nos preços dos alimentos. As manifestações deflagradas pela crise econômica chegam a Cartum e outras cidades. Forças de segurança respondem com disparos e gás lacrimogêneo.

6 de abril de 2019 – Centenas de milhares de pessoas realizam um protesto sit-in em frente ao quartel-general do exército em Cartum. Cinco dias depois, o exército depõe e prende o longevo ditador Omar Al-Bashir, ao encerrar três décadas de governo. Os protestos continuam, ao exigir que o poder seja entregue a forças civis.

3 de junho de 2019 – Forças de segurança avançam contra a manifestação sit-in em frente ao quartel militar. Médicos ligados à oposição registram mais de cem mortos na ocasião.

17 de agosto de 2019 – Grupos civis que apoiaram a derrubada do regime assinam um acordo de compartilhamento de poder com as Forças Armadas, durante um período transicional que deveria resultar em eleições. No mesmo mês, Abdalla Hamdok, economista e ex-oficial da ONU, é nomeado chefe de governo.

31 de agosto de 2020 – Autoridades transicionais firmam um acordo de paz com alguns grupos rebeldes da região ocidental de Darfur e das regiões meridionais de Cordofão do Sul e Nilo Azul. No entanto, dois grupos influentes se negam a assinar o acordo.

23 de outubro de 2020 – O Sudão se junta a outros estados árabes nos acordos mediados pelos Estados Unidos para normalizar relações com Israel. Menos de dois meses depois, Washington retira o Sudão de sua lista de países patrocinadores do terrorismo.

30 de junho de 2021 – O Sudão obtém aval para um empréstimo de US$56 bilhões após realizar reformas econômicas sob supervisão do Fundo Monetário Internacional (FMI).

25 de outubro de 2021 – Forças de segurança prendem Hamdok e outros oficiais civis durante a madrugada, após semanas de tensões entre civis e militares e uma tentativa de golpe. O chefe do exército, Abdel Fattah al-Burhan, anuncia a dissolução dos órgãos transicionais.

21 de novembro de 2021 – Após diversos protestos de massa contra o golpe e a suspensão da maior parte do apoio financeiro internacional, os comandantes sudaneses anunciam um acordo para restabelecer Hamdok como premiê. Hamdok, por sua vez, alega aceitar para evitar maior derramamento de sangue e proteger a economia, mas renuncia menos de dois meses depois, à medida que continuam os protestos.

16 de junho de 2022 – O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas reporta que mais de um terço da população sudanesa enfrenta insegurança alimentar severa devido às persistentes crises políticas e econômicas, desastres climáticos e conflitos armados.

25 de outubro de 2022 – Multidões tomam as ruas no primeiro aniversário do golpe de estado, em um dos maiores protestos contra o exército. Em Cartum, as forças de segurança respondem com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Ao menos um civil morre na cidade vizinha de Omdurman, a 119ª vítima, segundo fontes médicas.

5 de dezembro de 2022 – Grupos civis marginalizados pelo golpe assinam um acordo preliminar com as Forças Armadas para dar início a uma nova fase transicional de dois anos. A assinatura do texto final estava prevista para 6 de abril de 2023, mas foi protelada.

Não há nova data até então.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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