Das páginas da história palestina – Abd al-Qadir al-Husayni

Na história da Palestina existem muitos grandes líderes que sacrificaram tudo para defender sua terra e sua causa. No entanto, sabemos muito pouco sobre eles e sua história quase esquecida. É claro, há muitas razões para isso: ignorância, indiferença e negligência das autoridades responsáveis. Infelizmente, em alguns casos, tamanha negligência é deliberada. Por décadas, a história de sua luta desapareceu das páginas dos livros e não obteve seus direitos de divulgação na imprensa. Portanto, como pesquisadores e profissionais de mídia, temos o dever de estudar e pesquisar a biografia desses heróis para transmitir seu legado às novas gerações e erguer um farol para a libertação da Palestina.

Abd al-Qadir al-Husayni

“Sr. secretário-geral da Liga Árabe no Cairo: eu os considero responsáveis após abandonarem meus soldados no auge de suas vitórias sem assistência ou armas”. Setenta e quatro anos se passaram desde que Abd al-Qadir al-Husayni encaminhou esta carta à principal organização dos estados árabes, pouco antes de seu martírio na batalha de al-Qastal, em 1948.

Abd al-Qadir Musa Kazem al-Husayni nasceu na cidade de Jerusalém, em 1907, onde concluiu sua educação básica antes de ingressar na Faculdade de Artes e Ciências da Universidade Americana de Beirute. No entanto, foi expulso do curso devido a suas atividades nacionais. Em busca de uma instituição que lhe concedesse certa liberdade de ação, viajou ao Cairo, onde estudou química.

Sua mãe morreu um ano e meio após seu nascimento, de modo que foi criado sobretudo pela avó. Como chefe municipal de Jerusalém sob o Império Otomano, seu pai – Musa al-Husayni – viajava constantemente a trabalho, sobretudo a Iraque, Iêmen, Turquia e outras regiões da Palestina. Apesar das adversidades, cresceu em um lar repleto de consciência e resistência – seu primeiro abraço –, onde se hospedavam figuras influentes do Oriente Médio.

Início da resistência

Ao matricular-se na Faculdade de Ciências da Universidade Americana do Cairo, entretanto, al-Husayni identificou problemas na política institucional e passou a denunciá-la. O governo egípcio ordenou sua deportação em 1932 e o jovem estudante foi forçado então a retornar a seu país, onde se tornou editor do jornal Universidade Islâmica e diretor do Departamento de Assentamento de Terras. Seu trabalhou lhe permitiu aprender sobre os esforços do Mandato Britânico em favor do movimento sionista, que pretendia ocupar a Palestina histórica. Neste contexto, al-Husayni empregou sua posição na tentativa de frustrar esforços coloniais para expropriar terras nativas.

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Além do funcionalismo público, al-Husayni adotou meios da resistência armada. Dentre seus alvos, estiveram as residências do secretário-geral do governo britânico da Palestina e do alto-comissário da polícia colonial. Suas atividades culminaram na morte do diretor de polícia de Jerusalém e seu assessor direto. Em seguida, fundou batalhões que conduziram ataques a trens britânicos, em escala variada, até meados de 1939 – quando a resistência atingiu seu ápice na batalha de al-Khader, quando al-Husayni foi gravemente ferido.

Retorno ao Egito

Al-Husayni retornou ao Egito em janeiro de 1946, apesar de ser expulso do país sob ordem do primeiro-ministro. Não obstante, foi no território norte-africano que tratou de suas feridas e cicatrizes de guerra. A despeito das enfermidades, al-Husayni se manteve confiante de que a resistência era o único caminho para liberdade do povo palestino.

No exílio, passou a desenvolver um plano para reaver a resistência nacional às vésperas da Nakba – ou “catástrofe”, como ficou conhecida a criação do Estado de Israel, mediante limpeza étnica, em 1948. Al-Husayni organizou então centros de treinamento e operações armadas em favor da Palestina e estabeleceu um acampamento secreto em cooperação com forças nacionais egípcias e líbias, perto da fronteira entre ambos os países. Treinou ainda combatentes egípcios, que se voluntariaram para intervir na Palestina e na luta contra as forças coloniais britânicas.

Al-Husayni recrutou também uma equipe de inteligência para coletar informações e segredos de seus inimigos, para além das operações diretas contra agentes britânicos e gangues sionistas. Suas atividades obtiveram êxito considerável ao reduzir o índice de baixas e os assassinatos sistêmicos conduzidos contra militantes palestinos.

Martírio

Durante a batalha feroz e desigual de al-Qastal, al-Husayni entrou na aldeia homônima com um batalhão de resistência. Seu grupo foi inevitavelmente cercado pelas gangues sionistas. Com reforço quase imediato de outros batalhões – incluindo a guarda de Al-Aqsa –, al-Husayni e seus companheiros conseguiram controlar a situação no início da tarde e, após três horas de árduo combate, expulsaram temporariamente os invasores da aldeia.

Abd al-Qadir al-Husayni foi martirizado em 8 de abril de 1948. Seu corpo foi encontrado nos arredores de al-Qastal. No dia seguinte, foi levado a Jerusalém e então sepultado. Durante seu funeral, as gangues sionistas conduziram uma nova chacina, ao atacar a aldeia de Deir Yassin – somente escombros e cadáveres restaram no local.

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