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Massacre israelense em Jenin deixa nove palestinos mortos

Palestinos entram em confronto com soldados israelenses depois que as forças israelenses invadiram o campo de refugiados em Jenin, Cisjordânia, em 26 de janeiro de 2023. [Issam Rimawi - Agência Anadolu]

Ao menos nove palestinos, incluindo uma mulher idosa, foram mortos por soldados israelenses durante uma invasão ao campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, na manhã desta quinta-feira (26)

O Ministério da Saúde da Autoridade Palestina (AP) confirmou óbito de nove pessoas; cerca de outras vinte foram feridas. Ao menos quatro vítimas permanecem em estado grave.

Segundo relatos, soldados pesadamente armados invadiram Jenin em um caminhão à paisana e abriram fogo contra residentes que protestavam sua entrada. Veículos militares – incluindo um trator – seguiram a deixa; então, avançaram a um salão de encontros da comunidade.

Anas Huwaisheh, correspondente palestino para a televisão local, observou ao Middle East Eye que as cenas lhe recordaram dos incidentes de 2002, quando o campo de Jenin foi invadido na Segunda Intifada.

“O som das balas foi intenso e nuvens de fumaça cobriram os céus”, prosseguiu Huwaisheh. “A ocupação cortou a luz, a internet e o serviço de telefonia celular durante o ataque. Isso mostra que foi tudo planejado”.

Palestinos soaram o alarme no campo às 7h05 do horário local, quando avistaram uma unidade israelense à paisana se aproximando do ponto de entrada, perto da área de Jurat Adhab.

“Houve troca de tiros entre combatentes palestinos e soldados israelenses; em seguida, mais e mais forças surgiram para invadir o campo”, afirmou Huwaisheh. “Dezenas de veículos militares montaram um cerco em torno do perímetro”.

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Israel tinha como alvo combatentes da resistência que haviam instalado uma barricada em uma residência local. “Mas essa é a versão deles”, destacou o correspondente e testemunha in loco. “Somos todos civis e o que aconteceu hoje foi nossa tentativa de defender o campo”.

Antes de retirar-se, reportou Huwaisheh, o contingente sionista demoliu uma casa pertencente à família de Alaa al-Sabbagh, falecido membro das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa – braço de resistência armada do partido governista Fattah.

Al-Sabbagh foi morto em 2002 por um míssil lançado de um helicóptero militar contra Jenin. A demolição de sua casa equivale, portanto, a punição coletiva.

 ‘Massacre contra nosso povo’

O gabinete do presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas descreveu as mortes como “massacre do governo israelense à sombra do silêncio internacional”.

Nabil Abu Rudeineh, porta-voz de Abbas, acrescentou: “A complacência encoraja o governo da ocupação a cometer massacres contra nosso povo à luz de todo o mundo”.

Abbas declarou três dias de luto e ordenou que bandeiras sejam hasteadas a meio mastro.

Uma greve geral foi declarada nesta quinta-feira em toda a Cisjordânia e Jerusalém ocupadas. O Fatah conclamou os árabes nativos a enfrentarem as tropas de Israel nos checkpoints militares, segundo informações da agência de notícias Wafa.

A senhora baleada no pescoço Jenin foi identificada como Magda Obaid (60). Outras fatalidades incluem Saeb Issam Mahmoud Izreiqi (24) e Izzidin Yassin Salahat (26).

A ministra da Saúde Mai al-Kaileh alertou que bombeiros e paramédicos do Crescente Vermelho não conseguiram evacuar a área e resgatar os feridos devido à restrição de acesso da ocupação israelense ao campo de refugiados.

Segundo al-Kaileh: “Forças israelenses invadiram ainda o Hospital Público de Jenin e dispararam deliberadamente gás lacrimogêneo na ala de pediatria”.

O exército israelense confirmou os relatos da operação em Jenin, ao alegar resposta a dados de inteligência sobre um suposto “ataque terrorista” ali planejado.

O massacre desta manhã eleva o número de palestinos mortos por Israel desde 1º de janeiro a 29 vítimas. Neste período, campanhas de prisão realizadas quase sempre durante a madrugada varreram a Cisjordânia ocupada, resultando em letalidade.

A maior parte dos ataques nos meses recentes se concentrou em Nablus e Jenin, onde Tel Aviv busca reprimir uma emergente resistência armada entre a juventude local.

Conforme dados compilados pelo Middle East Eye, forças israelenses mataram mais palestinos na Cisjordânia ocupada em 2022 do que em qualquer ano da Segunda Intifada.

Ao menos 220 pessoas foram assassinadas por Israel nos territórios ocupados no ano passado, incluindo 48 menores de idade. Do total, estima-se que 167 residiam na Cisjordânia e Jerusalém ocupada e 53 na Faixa de Gaza.

Este artigo foi publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye.

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