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Palestina: o país que rouba a cena na Copa do Catar sem ao menos entrar em campo

Um membro da equipe do Marrocos segura uma bandeira palestina em 6 de dezembro de 2022 [KARIM JAAFAR/AFP via Getty Images]
Um membro da equipe do Marrocos segura uma bandeira palestina em 6 de dezembro de 2022 [KARIM JAAFAR/AFP via Getty Images]

Na última semana, a hashtag #raisethepalestinianflag (#levanteabandeirapalestina) foi utilizada por inúmeras pessoas que demonstraram sua solidariedade à Palestina durante a Copa do Mundo do Catar. Cenas das torcidas brasileira, marroquina e muitas outras levantando a bandeira palestina fizeram sucesso. Vídeos de torcedores que se negavam a dar entrevistas para canais israelenses, ou durante a transmissão entoavam “free Palestine” (Palestina livre), viralizaram nas redes. Afinal, o que explica um país que nem sequer entrou em campo ser tão citado e homenageado durante a Copa do Mundo?

Inicialmente, vale a pena trazer à baila o fato de que a Copa do Mundo é um evento para celebrar a prática esportiva do futebol, que reúne milhares de pessoas, de distintas nacionalidades, num só lugar, para torcerem por suas seleções. É exatamente por este evento ser o que é que sua história é marcada por momentos históricos de tensões políticas, quebra de paradigmas e ostensivas rivalidades históricas.

Resenhas: Marraquexe noir

Um bom exemplo foi a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, marcada por críticas ocidentais às políticas internas do país e por suas relações de tensão escancaradas com – e por – outros países, praticamente todos ocidentais. E, claro, em 2022, no Catar, não seria diferente.

No entanto, não foram as críticas ao país sede da Copa as que mais marcaram, mas, sim, as que foram dirigidas a Israel, país também não classificado para o maior encontro futebolístico do mundo.

A chamada “copa das manifestações” se mostrou revolucionária. As manifestações por uma Palestina Livre não partiram de um grupo isolado, mas, sim, de uma gama de pessoas de diversas nacionalidades e contextos: brasileiros levantando a bandeira em diversas ocasiões, japoneses se negando a falar para emissoras israelenses, o episódio do inglês que declamou “Palestina Livre” durante uma transmissão ao vivo em um canal israelense, a totalidade das torcidas árabes alinhadas em cores e cantos com a Palestina… Esses e diversos outros episódios levam à formação de uma convicção: a questão palestina ganha notoriedade à medida que o regime de Apartheid Israelense se torna mais evidente e indefensável.

Classificada como o assunto do futuro do Direito Internacional pelo ex-chanceler Celso Amorim, a Questão Palestina ganha destaque atualizado principalmente pela classificação do estado israelense como um regime de apartheid, em recentes relatórios de organizações internacionais de direitos humanos, como a Human Rights Watch, Anistia Internacional e a Faculdade de Direito de Harvard. De fato, quanto mais Israel avança em suas sangrentas investidas contra a existência do povo palestino, mais ímprobo se torna o ato de ignorar o que ocorre, de maneira que o mundo vira sua atenção para o que vem ocorrendo na Palestina e na região.

Quanto à premonitória fala de Celso Amorim, parece que o futuro é agora! O que ocorre na Palestina ocupada é hoje uma ampla demonstração de descumprimento dos tratados internacionais, com destaque para a Declaração Universal dos Direitos Humanos (Resolução 217-A, de 10 de dezembro de 1948), a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (Resolução 260, de 9 de dezembro de 1948), Declaração sobre a Concessão da Independência aos Países e aos Povos Coloniais (Resolução 1514, de 14 de dezembro de 1960), a  Resolução 1761, de “Sanções recomendadas contra a África do Sul em resposta à política governamental de apartheid”. Por tais motivos, a Palestina rouba a cena nos palcos nos quais o mundo fita os olhos, pois suplica por uma Palestina livre de Apartheid.

ASSISTA: Copa do Mundo no Catar: Sonho distante para torcedores palestinos

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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