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Palestinos, sírios e libaneses torcem juntos com brasileiros na Copa do Mundo

Torcida brasileira expressa solidariedade ao povo palestino, antes do jogo contra a Suíça pela fase de grupos da Copa do Mundo do Catar, no Estádio 974, em 28 de novembro de 2022 [MEMO]
Torcida brasileira expressa solidariedade ao povo palestino, antes do jogo contra a Suíça pela fase de grupos da Copa do Mundo do Catar, no Estádio 974, em 28 de novembro de 2022 [MEMO]

O Brasil possui a maior diáspora libanesa em todo o mundo. Cerca de 4% da população brasileira tem raízes libanesas – equivalente a 10 milhões de descendentes. Este é um dos fatores que explica a proximidade do Brasil com o pequeno país do Oriente Médio, assim como a popularidade da nação sul-americana nas terras do Líbano e arredores.

Muitos cafés e restaurantes libaneses, por exemplo, fazem alusão ao grão exportado de Santos, por exemplo. A população libanesa abre um sorriso de orelha a orelha ao esbarrar com um brasileiro pelas ruas de Beirute. Quando estive no país, tive a oportunidade de conhecer um libanês que chegou a jogar futebol em um time de São Paulo e me mostrou com orgulho seu antigo uniforme. A pergunta “pra qual time você torce?” se tornou quase uma rotina, vinda de várias pessoas diferentes, fosse no táxi, no museu ou no bar. Em Foz do Iguaçu, já em terras tropicais, uma guia da Mesquita Central da cidade comentou sobre uma cidade no Vale do Bekaa onde boa parte das pessoas falam o nosso português.

Todavia, nem só de libaneses se faz o Líbano. O país possui a maior população refugiada per capita do mundo – um refugiado para cada quatro cidadãos nativos. É comum esbarrar com palestinos, iraquianos e sírios pelo país, principalmente no Vale do Bekaa. A região é próxima a fronteira e detém atualmente a maior concentração de sírios no país. A diáspora também é bem numerosa e não é raro encontrar libaneses de origem palestina, entre outras.

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E assumo o risco de afirmar que boa parte deles tem uma identificação em torcer pela Seleção Brasileira. O Líbano parou para acompanhar a estréia do Brasil contra a Sérvia na Copa do Mundo, no dia 24 de novembro. As ruas pararam para comemorar a vitória por 2×0 sobre a equipe europeia. A festa tomou todo o país.

No Catar, um torcedor jordaniano, carregando a bandeira palestina e trajando um keffiyeh, teve a oportunidade de se encontrar com o técnico Tite. Na estréia brasileira contra a Sérvia, o torcedor em questão ajudou a carregar o neto do professor da seleção no colo no trajeto até a estação de metrô.

“Minha família estava voltando do jogo, e até chegar o metrô, é longe para caramba, e eu tenho dois netos, pesadinhos, transfere um, transfere outro, o Luca pesado para caramba. Nessa troca toda veio um árabe e pediu para ajudar, e pegou… E pegou meu neto e o carregou não sei quanto tempo. […]. Gostaria de conhecer o árabe, que mostrou um lado de solidariedade que transcende. Claro que viemos para ganhar, sermos campeões, eu sei, eu sei, mas têm coisas que transcendem. Fazer do Mundial um meio de confraternização, um meio de respeito, faz parte. A minha solidariedade e meu apreço.”, declarou o técnico emocionado em coletiva após o ocorrido.

A escritora libanesa de origem palestina, residente de Beirute, Nancy Slim, confirmou que passou a torcer para o Brasil por influência do pai, ainda criança. “Eu sou fã da Seleção Brasileira desde os meus seis anos de idade. Isto é graças ao meu pai, que também é muito fã e deixou raízes disso em todos nós. Eu não ligo muito para futebol, mas é uma tradição de família assistir os jogos e torcer para o Brasil. Por alguma razão muitos libaneses torcem para o Brasil também. Honestamente, é incrível”, declarou.

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A estudante de jornalismo e fotógrafa síria residente no Bekaa, Fatima Diab, explorou junto ao MEMO as razões para tamanho apoio árabe à Seleção Brasileira.

Residentes do Vale do Bekka, onde há maior concentração de sírios no Líbano, manifestam sua torcida para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo [Fatima Diab/MEMO]

Residentes do Vale do Bekka, onde há maior concentração de sírios no Líbano, manifestam sua torcida para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo [Fatima Diab/MEMO]

“Muitas das lendas do futebol brasileiro não tiveram chuteiras para calçar na infância, e quando colocam o sonho diante de si, o realizam. E quando voltam ao seu país, levam alegria para seu povo. Estas são algumas das razões que nos levam a incentivá-los. É como se nos dissessem que o sucesso não vem do dinheiro, mas sim da determinação e da paixão. Jogam bola com ânimo e entusiasmo, e a vibração cresce com sentimento de pertencimento à camisa que vestem. Boa parte da diáspora árabe mora no Brasil há muito tempo, e quando os encorajamos, agradecemos por nos receber em sua terra, e isso é muito pouco para agradecê-los.”, comentou Fatima.

O Brasil classificou para as oitavas de final em primeiro lugar do grupo e enfrentará a Coreia do Sul nesta segunda-feira, 5 de dezembro, às 16 horas. Sem dúvidas, contará com a energia do povo árabe para mais uma vitória.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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