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Autoridade Palestina fracassa em proteger os palestinos

Denunciando a Autoridade Palestina (AP) após a morte do ativista Nizar Banat enquanto estava sob custódia das forças de segurança da AP em 17 de julho de 2021 [ABBAS MOMANI/AFP via Getty Images]

A resistência anticolonial palestina demonstrou que não mais acatará aos caprichos das facções políticas, deixando tanto Israel quanto a Autoridade Palestina (AP) diante de uma considerável mudança na dinâmica popular. A AP tornou-se irrelevante seja por sua própria colaboração com a ocupação e adesão aos fracassos diplomáticos da comunidade internacional, seja perante sua imagem junto aos palestinos. Ao não conduzir eleições democráticas, como prometido, matar o ativista político Nizar Banat, em custódia da polícia, e manter táticas violentas e opressivas, a AP empoderou a dissociação entre seus concidadãos e o governo estabelecido.

Por que a Autoridade Palestina matou Nizar Banat? [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Por que a Autoridade Palestina matou Nizar Banat? [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Durante um encontro recente com agentes israelenses, Hady Amr – assessor do Departamento de Estado dos Estados Unidos – reiterou a importância de fortalecer a AP e evitar seu colapso. É claro, Washington não deseja proteger os civis palestinos, mas sim preservar colaboradores na AP, ao menos enquanto Tel Aviv e a comunidade internacional precisarem deles. Igualmente, o chefe da polícia doméstica israelense (Shin Bet), Ronan Bar, advertiu o primeiro-ministro eleito Benjamin Netanyahu sobre o eventual colapso do regime em Ramallah e o impacto iminente à coordenação de segurança com a ocupação.

A coalizão estabelecida por Naftali Bennett e Yair Lapid foi caracterizada pela recusa absoluta a qualquer negociação diplomática com Ramallah e escassas concessões aos palestinos. Perante o novo governo, a AP deve enfrentar cada vez mais hostilidades e maior isolamento, dado que se trata de mero instrumento colaboracionista a Tel Aviv e entidade pouco confiável aos olhos dos palestinos, que vivem sua violência em primeira mão.

A imprensa israelense enalteceu seu modesto alívio econômico conferido à AP como razão pela qual o grupo de resistência conhecido como Toca dos Leões não evoluiu a um vasto movimento popular como as intifadas anteriores. Entretanto, a coordenação de segurança exerce seu papel – a autoridade em Ramallah está tão afoita quanto Israel a não deixar que nada imponha risco a seus interesses políticos.

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O próximo governo israelense pode muito bem ignorar ou considerar irrelevante a contribuição da AP ao empreendimento colonial. Bezalel Smotrich, líder do partido Sionismo Religioso, que expressou preferência pelo Ministério da Defesa, já declarou apoio à dissolução da presidência de Mahmoud Abbas assim como à anexação de partes consideráveis da Cisjordânia ocupada. De fato, a violência política de Smotrich pode não ser páreo para Netanyahu; porém, o ex-premiê exibiu maior cautela em seu último mandato, em nome de concessões a Tel Aviv e impunidade. A nova coalizão de ultradireita deve dar pouca ou nenhuma atenção à existência de Abbas.

Para os palestinos, o desastre é certo. Qualquer acordo de coordenação de segurança entre AP e Israel assegura que a liderança ilegítima em Ramallah mantenha sua repressão a concidadãos civis em nome de Israel. Caso o próximo governo sionista decida rescindir os incentivos fiscais à AP, com intuito de isolá-la ainda mais, os palestinos podem enfrentar uma escalada ainda maior na violência extremista em seu território, sem qualquer oposição de seus representantes. Vale notar que a anexação paira sobre a agenda israelense – medida que a AP se mostrou incapaz de combater salvo ao planejar infrutíferas “conferências de paz” no exterior. A violência de Israel contra os palestinos é segura – o que está em aberto é como a Autoridade Palestina contribuirá para tanto nos próximos anos.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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