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Panorama 2022 da Agência Internacional de Energia: Planos de transição e crise global

Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), em Istambul, Turquia, 20 de dezembro de 2019 [Celal Güneş/Agência Anadolu]

Nesta semana, a Agência Internacional de Energia (AIE) publicou seu Panorama 2022, com foco na Conferência do Clima das Nações Unidas deste ano (COP27) e projetos de transição em meio à invasão russa da Ucrânia.

O relatório de 524 páginas comenta da necessidade de reduzir as emissões de carbono em 38%, equivalente a 1.5 grau de 2021 a 2030, para aproximar-se da meta zero. O texto reafirma, no entanto, que as políticas em curso mostram queda de somente 1% nas emissões de carbono. A porcentagem revela que chefes de estado e de governo ainda demandam correções de abordagem no que se refere à economia de petróleo.

Durante a COP23 na cidade de Bonn, na Alemanha, em 2017, foi aventada a proposta da taxação de combustíveis fósseis por James Hensen, cientista da NASA e pioneiro na pesquisa sobre as mudanças climáticas. Hensen ressoou o alarme sobre a crise ambiental diante do Congresso dos Estados Unidos há trinta anos. Hensen também me disse recentemente que a única maneira de amortizar a queima de combustíveis fósseis e retificar a questão climática é impor uma taxa de carbono de larga de escala.

Durante a Primeira Guerra Mundial, a economia embasada no petróleo se estabeleceu ao invés de um mercado alicerçado sobre insumos renováveis. O xis da questão repousa no fato de que o uso de combustíveis fósseis continua a ser a fonte supostamente mais barata ao mercado global. Enquanto assim for, outras soluções serão ignoradas. Justifica-se assim a persistência de Hensen por uma taxa sobre as emissões de carbono – seja no momento da produção ou da importação. Os avanços de sua proposta chegariam ao público e encorajariam pesquisas e barateamento de economias alternativas.

A crise energética converteu-se de certa forma do problema das mudanças climáticas à falta de insumos devido à guerra na Ucrânia. No entanto, por alguma margem de sorte, a solução parece ser a mesma: um passo gigantesco em investimento em energia limpa para conter as mudanças climáticas e para minguar a dependência dos países sobre insumos estrangeiros.

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“A crise global de energia alimentada pela invasão da Rússia na Ucrânia levou a uma jornada de muitos governos para recorrer a outras fontes e substituir o abastecimento de gás natural que o regime russo decidiu reter do mercado”, comentou o relatório da AIE. “O que nos encoraja são as notícias de que energia solar e eólica estão preenchendo grande parte da lacuna, de maneira que o apelo ao carvão parece ser relativamente ínfimo e provisório”.

Isso significa que as emissões de carbono cresceram em ritmo menor neste ano do que muitos temiam e que as políticas adotadas parecem mobilizar mudanças estruturais concretas no setor da economia energética. As mudanças devem ganhar nova tração, graças a projetos ambiciosos de energia limpa que avançaram em escala global nos últimos meses.

Como exemplo de seu investimento verde e parte de sua promessa de chegar a zero emissões de carbono em 25 anos, o governo escocês criou um fundo para oportunidades de negócios em fontes renováveis, ecológicas, de baixo carbono e favoráveis à reciclagem. Lançado em outubro de 2019, o Portfolio de Investimento Verde da Escócia (SGIP) deve injetar £3 bilhões a propostas deferidas pelo estado em favor do meio-ambiente. Sob o plano, o Parque Michelin de Inovação da Escócia (MSIP) deve custear a reforma de uma fábrica existente de 70 mil m² para os novos objetivos estratégicos, além de promover a criação de um parque industrial moderno de 20 mil m². Trata-se de um projeto de regeneração da indústria concentrado em mobilidade sustentável e “energias de baixo carbono”.

Portfolio de Investimento Verde da Escócia (SGIP)

Em suma, o relatório da AIE sobre a crise energética nos lembra que há lideranças emergentes na busca por uma economia global cada vez mais verde. A COP27 no Egito receberá ao menos 90 líderes de todo o planeta e 50 mil delegações, em novembro. Assim como na COP26, ongs e associações civis, empresários e investidores comparecerão em massa para demonstrar suas intenções e sua disposição em agir contra as mudanças climáticas. É evidente que os próximos dez anos demandam um tipo distinto de liderança para desmantelar as barreiras que costumam separar empreendimentos e políticas tradicionais – além da abordagem referente de ativistas e pesquisadores. Desta forma, na COP27, líderes mundiais têm um grande dever: garantir que os riscos relacionados ao clima sejam superados para levar investidores rumo à energia verde.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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