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A presença árabe nas eleições gerais de 2022

Candidados à presidência, vice e ao governo de São Paulo, Lula, Geraldo Alkmin e Fernando Haddad, na campanha eleitoral 2022 [ Ricardo Stuckert]

Neste artigo fazemos um relevo de operadores políticos profissionais com origem árabe, poucos destes alinhados diretamente com a libertação da Palestina e do Bilad al-Sham, e com um poder de representação que sempre ultrapassa, e muito, o voto da colônia. O perfil neste sentido é bem semelhante, homens e mulheres perfeitamente integrados na sociedade brasileira e no espectro político que vai da centro-esquerda à centro-direita. Também estão muito ou algo distantes dos poucos patrícios que apóiam os aliados estratégicos do inimigo sionista no Brasil. Vejamos esse breve levantamento comentado.

Se considerarmos que o segundo cargo mais importante do país é o de vice-presidente, constatamos que a chapa Lula e Geraldo Alckmin (PT-PSB e outros oito partidos) recebeu 48,43% enquanto os rivais Jair Bolsonaro (buscando a reeleição) e o general da reserva Braga Netto (PL-PP-PR) obtiveram 43,20% da proporção total do eleitorado. O número de votos foi de 57.258.115 para o ex-presidente e o candidato à reeleição recebeu 51.071.277. Houve um pequeno número de votos nulos e brancos e a abstenção foi de 20,3%, mantendo a média histórica. O ex governador de São Paulo,  caso vença as eleições, será o árabe-brasileiro com maior concentração de poder.

O terceiro cargo executivo mais importante da república é o de governador do estado de São Paulo, com mais de 40 milhões de habitantes, equivale a 40% do PIB brasileiro. Passaram para o segundo turno dois concorrentes, um deles de família de origem antioquina e o outro, indicado de Bolsonaro. Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação de Lula, ex-prefeito de São Paulo capital e ex-candidato a presidente em 2018 perdeu para o ex-ministro da Infra-Estrutura e Transportes de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (PL). Haddad recebeu 35,70% e o ex-ministro do atual governo recebeu 42,32%.

A terceira colocada nas eleições é brima também. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) tem origem libanesa e ganhou bastante destaque pela bancada feminina na CPI da Covid. De família tradicional na política sul-matogrossense, recebeu 4,2% dos votos válidos, totalizando 4.15.423 votos.  Podemos afirmar que Tebet é a grande “vencedora” do pleito, em função de acúmulo de capital político e projeção de imagem positiva. Ao aliar-se com Lula e Alckmin, traz a campanha do segundo turno ainda mais ao centro, embora sua agenda programática no incentivo da educação e defesa das mulheres seja reivindicável.

LEIA: O primeiro turno das eleições presidenciais sob um ângulo árabe-brasileiro

Dentre os defensores assumidos do fim do Apartheid sionista, o destaque vai para o deputado federal com mais votos no estado de São Paulo e segundo mais votado no Brasil, Guilherme Boulos (PSOL-SP). O político paulistano tem vínculos consolidados com a Causa Palestina e a libertação do Mundo Árabe. Como líder de movimento social da questão da moradia e habitação popular, Boulos é muito requisitado em temas sociais e na agenda econômica do país. Ainda assim pode ser um trunfo para confrontar representantes diretos do Estado de Israel, como o filho de número três do atual presidente, Eduardo Bolsonaro (também conhecido como Duda Bananinha).

O segundo estado mais importante do país, em termos de população e posicionamento estratégico, é Minas Gerais. Este estado da região sudeste é o segundo maior total de eleitores do Brasil, e teve como concorrentes com chance ao governo do estado ao empresário Romeu Zema (Partido Novo, buscando a reeleição) e o ex-prefeito da capital e dirigente esportivo Alexandre Kalil (PSD). Zema foi eleito já no primeiro turno – com 56,18% – e Kalil recebeu 35,08% dos votos. Se houvesse um segundo turno em Minas Gerais, teríamos outro descendente de árabes à frente do processo político, ampliando – relativamente – as capacidades da Causa Palestina como grupo de pressão.

O ex-dirigente do Clube Atlético Mineiro deixou em se lugar na prefeitura de Belo Horizonte ao economista Fuad Noman (PSD-MG), também patrício. Em Minas se destaca a eleição do petista Patrus Ananias para deputado federal. É fundador do PT, ex-prefeito da capital mineira, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário de Dilma e inclusive já esteve à frente de projeto de combate a fome no Líbano e na Palestina Ocupada.

Dos 27 senadores eleitos, o PL (partido de Bolsonaro) elegeu 8 e a federação liderada pelo PT, 4. No Senado vale destacar a eleição de Omar Aziz (PSD, estado do Amazonas), de família palestina, opositor ao governo Bolsonaro e que pode ser aliado chave caso Lula venha a ser eleito. Omar José Abdel Aziz foi figura chave na CPI da Covid e como um experimentado gestor no Amazonas, já tendo assumido a pasta da segurança pública, pode ser o referencial para evitar ou ao menos diminuir a presença sionista nos aparelhos repressivos estaduais.

Ainda na Região Norte, Helder Zahluth Barbalho (MDB-PA) é o governador reeleito do importante estado do Pará. De origem patrícia por parte de mãe, perdeu em apenas 17 municípios de um total de 144, recebendo mais de 70% dos votos válidos. Seguindo a orientação da ala de seu pai no partido, o cacique político Jader Barbalho, o mandatário paraense está da campanha de Lula com total compromisso. Importante ressaltar que caso a chapa Lula/Alckmin não venha a ser eleita, assim caso Fernando Haddad perca a corrida ao Palácio dos Bandeirantes, Helder Zahluth pode vir a ser o político árabe-brasileiro com maior concentração de poder em todo o Brasil. Cabe observar que o  economista Simão Jatene é um rival político no Pará e também tem origem patrícia.

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Três dirigentes históricos da centro-direita continuam com certa evidência. São dois brimos paulistas e um tucano do Ceará. Michel Miguel Elias Temer (ex-presidente e ex- vice-presidente) e o líder do PSD, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo capital. Como senador cearense ainda no exercício na plenitude do cargo está Tasso Jereissati (PSDB-CE) .

No tocante às eleições presidenciais em segundo turno, Temer e Kassab declararam neutralidade e Jereissati apóia Lula. Como é típico destas legendas mais oligárquicas da centro-direita, MDB, PDSB e PSD liberaram seus filiados a se posicionarem. Ganhe quem ganhe, uma parcela da legenda segue com algum vínculo junto ao poder executivo.  Dos três partidos, a situação mais desesperadora em termos de unidade interna é a do PSDB.

O artigo aborda uma série de importantes políticos e políticas árabe-brasileiras em evidência neste segundo turno das eleições presidenciais. Evidente que há mais nomes e pessoas para serem abordadas, incluindo operadores ainda vinculados às posturas da falange e apoiadores do sionismo e de Bolsonaro, aliado estratégico do inimigo no Brasil. Preferimos não entrar na lista da extrema direita justamente pelas razões alegadas acima.

Ainda estamos muito distantes da correlação direta entre o poder político e o apoio incondicional que necessitamos para a libertação da Palestina e de todo o Bilad al-Sham. De certa forma as elites representativas de origem árabe no Brasil refletem a confusão de pertencimento e a falta de formação histórica e política no tocante ao Oriente Médio e Mundo Islâmico. Ressalta-se que embora o tamanho do problema seja grande, o potencial de acumulação de forças é ainda maior, e em todos os níveis. Neste sentido, derrotar o sionismo eleitoral operando no país é o passo mais importante no curto prazo.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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