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Armas e treinamento israelenses em mais uma chacina no Rio de Janeiro

Familiares e parentes de outras vítimas de violência do Estado protestam em frente ao TJRJ - [Bruna Freire/Ponte Jornalismo/via Brasil de Fato]
Familiares e parentes de outras vítimas de violência do Estado protestam em frente ao TJRJ - [Bruna Freire/Ponte Jornalismo/via Brasil de Fato]

Em um ano no qual o Estado racista de Israel vem matando cinco vezes mais palestinos em comparação a 2021, suas armas e técnicas seguem impunemente sendo vendidas ao genocídio negro e pobre no Brasil. Sem que se parem as máquinas da morte, as favelas do Rio de Janeiro enfrentam em poucos meses mais uma chacina.

No dia 21 de julho último, os moradores do Complexo do Alemão viveram mais um dia de terror nas mãos da polícia. Dezenove perderam a vida desta vez. No dia 12 do mesmo mês, outros seis foram assassinados na Favela de Manguinhos. Em 24 de maio, foram 23 na Favela da Vila Cruzeiro, na segunda operação mais letal dos últimos tempos, seguida da chacina de Jacarezinho em maio de 2021, que deixou 28 mortos.

Há tempos que os movimentos sociais e populares, inclusive das comunidades do Rio de Janeiro, têm feito a denúncia de que as mesmas armas, técnicas e treinamentos que matam palestinos estão a serviço das polícias para o genocídio pobre e negro nas periferias e favelas brasileiras. Assim, como parte de sua ação contra a militarização de suas vidas, têm exigido embargo militar a Israel, no marco da campanha de BDS (boicote, desinvestimento e sanções). Urge ouvir suas vozes.

O Estado racista e capitalista mata aqui, ao tempo que sustenta o apartheid e colonização na Palestina na contínua Nakba (catástrofe consolidada com a formação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica planejada).

“Testes em campo”

Em meio a mais essa chacina, Israel tem expulsado palestinos e palestinas em Masafer Yata, no sul de Al Khalil (Hebron), para construir uma “zona de tiro” ao exército da ocupação. A limpeza étnica, como não poderia deixar de ser em um regime colonial e de apartheid, teve o aval em maio último da Suprema Corte sionista. Mil e duzentos palestinos estão sob risco iminente de remoção forçada. Israel desenvolve suas tecnologias militares com “testes em campo” – ou seja, sobre os corpos palestinos. Depois, destina cerca de 70% à exportação, às quais são usadas em chacinas como a do Complexo do Alemão agora. O projeto de nova “zona de tiro” sobre a aldeia de Masafer Yata é parte desse processo.

Destes “testes em campo” surgem as armas admiradas pelos Estados capitalistas mundo afora. Tristemente o Brasil se tornou ao longo da última década um dos cinco maiores importadores de tecnologia militar israelense.

O Rio de Janeiro está na vanguarda. Segundo artigo de Janaína de Rezende publicado em janeiro último no portal Monitor do Oriente, em “2011, Leo Gleser, argentino, ex-agente da Mossad (serviço secreto do Estado de Israel), fundou um escritório da sua agência, a ISDS [International Security Defence Systems], no Brasil, a fim de entender de perto os desafios que a segurança do Rio de Janeiro enfrentava. Sua empresa já é tradicional no ramo de segurança em eventos esportivos, portanto, foi uma das contratadas para as Olimpíadas de 2016. Por diversos fatores, a ISDS passou a ser patrocinadora oficial do evento e teve seu nome estampado em diversas publicidades, o que gerou críticas de diversos grupos antissionistas e de direitos humanos. Muitos equipamentos que são utilizados para patrulhar e oprimir a população palestina foram usados para segurança do evento. Todos dispondo de altíssima tecnologia.” A ISDS, como revelado pelo BDS, historicamente teve colaboração estreita com ditaduras na América Latina.

A autora continua: “Não apenas em grandes eventos armamentos israelenses são utilizados no Brasil. Alguns ‘caveirões’ – carros grandes e blindados que entram nas favelas com aproximadamente 15 policiais fortemente armados – foram adquiridos de empresas israelenses. Em 2009, na feira latino-americana de equipamentos militares, o secretário de segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, juntamente com o embaixador de Israel, Giora Becher, e o chefe de Relações Exteriores do Exército de Israel, general Ehud Shani, fecharam um acordo para compra dos veículos.”

Há cerca de nove anos, em 2013, já surgiam denúncias do uso de caveirões israelenses na repressão e ocupação de favelas. Ao início daquele ano, foram comprados pelo estado fluminense oito deles por cerca de R$ 6 milhões da empresa israelense Global Shield, a qual enxergava ali uma “oportunidade” de expor seus produtos no que viria a ser o “maior show room de segurança pública mundial”: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Logo após este último megaevento, a Polícia Militar do Rio (PMERJ) recebeu mais um blindado israelense, adquirido por US$ 750 mil.

Além dessas denúncias de compra de novos “caveirões” à PMERJ e ao Batalhão de Operações Especiais (Bope), outras se seguem, de acordos para treinamento e outros equipamentos.

O Rio de Janeiro se supera dia a dia. O relatório “Chacinas Policiais”, de maio de 2022, produzido pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), indica que no período entre 2007-2021 foram realizadas 17.929 operações policiais no Rio de Janeiro. Deste total, 593 “resultaram em chacinas, totalizando 2.374 mortos”.

Segundo o documento, “as mortes em chacinas representam 17% do conjunto das mortes por intervenção de agentes do Estado no período, o que nos indica também uma participação muito grande das chacinas na letalidade policial como um todo”. Lamentavelmente a lista de nomes que integram essa lista não para de crescer. Somente na gestão atual do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), foram, segundo o portal UOL, 76 chacinas, com 348 mortos no total.

Como parte da luta contra o Estado racista e capitalista, bem como por libertação nacional na Palestina, embargo militar a Israel é questão de vida ou morte.

LEIA: Por que boicotar a mostra israelense de cinema

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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