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A AP reflete a hipocrisia internacional sobre a Palestina

Presidente palestino Mahmoud Abbas na Cisjordânia, em 10 de fevereiro de 2022 [MOHAMAD TOROKMAN/POOL/AF/Getty Images]

A Autoridade Palestina tardou em enxergar os padrões duplos da comunidade internacional quando se trata de declarar apoio à Palestina mas manter a impunidade com a qual Israel pode agir. No entanto, a AP ainda está longe de reconhecer essas táticas em sua própria política, o que em si é uma grande contradição, uma vez que Ramallah está em dívida pelo  consenso internacional sobre a Palestina e suas repercussões.

Em uma declaração recente relatada pela agência de notícias Wafa, o Ministério das Relações Exteriores da AP declarou que “a política de dois pesos e duas medidas da comunidade internacional tornou-se uma cobertura para a persistência de Israel em roubar terras palestinas e aprofundar sua rebelião e negação de acordos assinados, da lei internacional, das Resoluções das Nações Unidas e perspectivas para a paz.” Só que isso  não se tornou uma cobertura agora; sempre foi uma. É por isso que a ONU não vai comemorar seu Plano de Partilha de 1947, e expressa uma falsa preocupação com um Dia Internacional de Solidariedade para os palestinos, por exemplo. Isso, sem mencionar que o simbolismo associado a esse dia é também um verniz através do qual a ONU se apresenta como a principal agência de direitos humanos, em vez de cúmplice de violações do direito internacional.

O papel da ONU na colonização da Palestina por Israel não pode ser negligenciado nem exagerado. A AP teria sido elogiada por apontar as discrepâncias, não fosse por seu próprio papel em garantir que os palestinos permaneçam longe da autonomia política e da independência.

É um fato incontestável que a AP é sinônimo de coordenação de segurança com o Estado de ocupação colonial e a violência que ele inflige, particularmente contra palestinos envolvidos em atividades de resistência ou aqueles que são populares por defender opiniões em oposição ao líder da AP Mahmoud Abbas. Ocasionalmente, a AP suspende e depois retoma a coordenação de segurança com Israel, explorando a luta anticolonial do povo e ameaçando cancelar os acordos existentes. No entanto, a AP sabe que é incapaz de realizar tal feito político devido à sua dependência de financiamento de doadores internacionais, que por sua vez depende de agir de acordo com Israel em questões de segurança. Onde está a diferença entre a AP e a ONU, além do fato de que a AP não pode existir sem financiamento enquanto deve adotar os mesmos padrões duplos que a comunidade internacional?

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O compromisso de dois estados é o exemplo mais proeminente da hipocrisia internacional à qual a AP realmente adere. Parece que a autoridade de Ramallah não vê um padrão duplo em pedir a independência palestina por meio de um paradigma extinto que na verdade facilitou a expansão colonial de Israel e o entrincheiramento de seu sistema de apartheid.

Se a AP quiser desafiar os padrões duplos internacionais, sua primeira ação deve ser dissociar-se do consenso internacional sobre a “solução” de dois Estados. A AP, no entanto, não vê discrepância em convocar conferências internacionais de paz baseadas em um paradigma extinto sob os auspícios de uma instituição internacional cúmplice da colonização do território palestino por Israel. No que diz respeito à coordenação da segurança e à construção do Estado, a AP faz vista grossa aos padrões duplos de financiamento dos doadores para coagir a população palestina em um projeto humanitário perpétuo que não deixa espaço para direitos políticos. Isso levanta uma questão sobre como a AP percebe as aspirações democráticas do povo da Palestina ocupada e da diáspora em relação ao seu próprio autoritarismo e à infinidade de desculpas dadas para justificar o adiamento das eleições palestinas agendadas para o ano passado. Quando se trata de padrões duplos, a AP é bem versada não apenas em reconhecimento, mas também em implementação. Reflete a hipocrisia internacional sobre a Palestina.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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