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Etiópia limita informações divulgadas sobre a guerra no país

28 de novembro de 2021, às 11h03

Soldados etíopes patrulham as ruas da cidade de Mekelle, na região do Tigré, norte da Etiópia, após ser capturada pelas forças nacionais, em 7 de março de 2021 [Minasse Wondimu Hailu/Agência Anadolu]

A Etiópia anunciou novas restrições ao compartilhamento de informações concernentes à guerra no norte do país, segundo informações da agência Reuters. Conforme a medida, apenas o governo central pode divulgar atualizações sobre os eventos em campo.

“Disseminar informações sobre manobras, atualizações e resultados do fronte via qualquer mídia é proibido”, salvo concedidas pelo comando civil-militar incumbido de monitorar o “estado de emergência”, declarou na quinta-feira (25) o serviço de comunicação do governo.

O conflito entre o governo central e forças rebeldes da região do Tigré, norte da Etiópia, deflagrou-se em novembro do último ano.

A declaração não especificou, no entanto, as implicações das novas regras, sobretudo a jornalistas e agências que cobrem a guerra. Por exemplo, não há consequências previstas para quem publicar informações de fontes não-autorizadas.

A agência Reuters tentou contactar o serviço de regulação de mídia do regime etíope; entretanto, até então, não recebeu resposta.

Na sexta-feira (26), Bilene Seyoum, porta-voz do primeiro-ministro Abiy Ahmed, afirmou à Reuters: “O estado de emergência proíbe entidades não-autorizadas de disseminar atividades do fronte via diversos canais, incluindo média”. Porém, sem conceder detalhes.

Neste ano, o parlamento etíope designou a Frente Popular de Libertação do Tigré, movimento que controla grande parte da região, como “organização terrorista”.

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Em seu novo decreto, o governo instruiu também “todos aqueles que usam a liberdade de expressão como pretexto … para apoiar o grupo terrorista a evitar fazê-lo”.

Ao tomar posse, em 2018, o premiê Ahmed supervisionou uma série de reformas, incluindo a retomada das operações de mais de 250 órgãos de imprensa, libertação de dezenas de jornalistas encarcerados e revogação de leis regulatórias altamente controversas.

Contudo, grupos de direitos humanos denunciam que a liberdade de expressão erodiu exponencialmente desde então, à medida que o governo passou a enfrentar surtos de violência e conflito, incluindo no estado setentrional do Tigré e regiões vizinhas.

Ao menos 38 jornalistas e profissionais de mídia foram detidos desde 2020, a maioria após deflagrar-se a disputa militar, segundo estimativas da Reuters.

Em maio, questionado sobre as prisões, o serviço de regulação de mídia do regime etíope argumentou, porém, que a “liberdade de expressão e proteção da imprensa são valores sacros, consagrados por nossa constituição”.