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Impedido de falar com família, preso político do Bahrein começa greve de fome

Ativistas protestam diante da Embaixada do Bahrein em Londres contra a detenção de Abdulhadi al-Khawaja, em 4 de junho de 2018, Reino Unido [Alisdare Hickson/Flickr]

O defensor dos direitos humanos, Abdulhadi al-Khawaja, preso há dez anos no Bahrein, começou uma greve de fome após ser informado que os telefonemas para a sua família estavam banidos, sua filha Zaynab anunciou nesta terça-feira (16) no Twitter. Segundo ela, o pai não pode receber visitas há dois anos. O ativista político, de 60 anos, já foi presidente do Centro para Direitos Humanos do Bahrein e cumpre prisão perpétua por “organizar e administrar uma organização terrorista”; ele foi preso durante os protestos pró-democracia em 2011.

“Meu pai, Abdulhadi Al-Khawaja, o principal defensor dos direitos humanos do Bahrein, está atualmente cumprindo seu décimo ano nas prisões do regime. Ele acaba de iniciar uma greve de fome devido ao longo e contínuo assédio por parte das autoridades penitenciárias”, disse Zaynab.

“Já faz quase dois anos que meu pai não tem direito a visitação. Ele tem sido autorizado a fazer chamadas regulares e videochamadas para a família, sendo estas sua única comunicação conosco, mas nunca foram consistentes e dependeram do estado de espírito das autoridades”, disse sua filha.

Segundo ela, Abdulhadi afirmou durante uma ligação recente que as ligações são dadas como “favores” e que há meses ele pede que as ligações sejam um direito. “Um funcionário da prisão interrompeu e exigiu que ele não ‘falasse de política’. Ele protestou que falar sobre as condições das prisões não é ‘política’”, ela publicou.

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“Ele deveria ter uma ligação com sua mãe hoje, mas estava preocupado que eles impedissem suas ligações como punição. A chamada foi de fato impedida. Sabemos através da família de outro prisioneiro que ele iniciou uma greve de fome. Não temos como contatá-lo para saber mais detalhes”.

Hoje ela publicou que o nível de açúcar no sangue de seu pai já havia caído para 3,4 e que tentaram alimentá-lo de forma intravenosa, mas ele se recusou.  “Meu pai é forte, mas nós estamos preocupados com sua saúde. Exigimos que o regime do Bahrein trate deste assunto imediatamente”.

Zainab, também ativista dos direitos humanos, lembrou que essa não é a primeira greve de fome de seu pai. “Seu período mais longo foi de 110 dias, durante os quais ele foi alimentado à força (o que por si só é considerado tortura). Após sua última greve de fome, foi-nos dito que seu corpo estava muito fraco e que novas greves de fome seriam perigosas para sua vida”.

“Os prisioneiros de consciência não devem passar fome para poder fazer ligações para suas famílias, ou obter seus direitos mais básicos. Eles já passam por injustiças suficientes, e isso é uma violação adicional de seus direitos”, diz ela marcando as tags do Bahrein e da Palestina. “Meu pai não é o único prisioneiro de consciência bahreinita em greve de fome. Abduljalil AlSingace também esteve em uma longa greve de fome, exigindo que seus escritos lhe fossem devolvidos. Sua vida está atualmente em perigo”, ela denuncia.

Abdulhadi Al-Khawaja foi um dos líderes dos protestos pró-democracia do Bahrein em 2011, onde ele “apelou por um país democrático, sem impunidade ou corrupção, onde as pessoas tenham direitos iguais e liberdades fundamentais”. Durante as chamadas Primaveras Árabes,  a Revolta do Bahrein reuniu dezenas de milhares de pessoas nas ruas, pedindo por reformas democráticas e o fim da discriminação contra a maioria da população xiita. Os protestos foram brutalmente reprimidos pelas forças de segurança apoiadas pelos sauditas.

“Por isso, ele foi brutalmente preso, desaparecido e submetido a torturas horríveis. No tribunal, quando o saco em sua cabeça foi removido, ele não parecia nada consigo mesmo. Sua cabeça foi raspada, sua mandíbula quebrada. Quando falou, ele foi arrastado para fora e torturado, depois condenado à prisão perpétua”, disse ela.

“Tem havido contínuas demandas internacionais por sua liberação e acesso à reabilitação. O Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenção Arbitrária exigiu sua libertação. O próprio relatório do BICI [Comissão de Inquérito Independente do Bahrein] do regime documentou sua tortura. No entanto, meu pai permanece em uma cela de prisão, dez anos depois”.

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“O regime do Bahrein tem ficado impune de muita coisa por muito tempo. Meu pai dedicou sua vida à luta pela justiça, democracia, liberdade de expressão e responsabilidade”, diz ela pedindo que a comunidade internacional se mobilize pela soltura de seu pai. “Estes regimes sempre apostam que as pessoas vão cansar e esquecer dos presos de longa data, vamos mostrar-lhes que não nos cansamos e não esquecemos”.

Mary Lawlor, a relatora especial da ONU sobre a situação dos defensores dos direitos humanos, pediu a libertação de Khawaja, antes de seu 60º aniversário, em 5 de abril.

“Ele está cumprindo uma sentença de prisão perpétua por defender pacificamente os direitos dos outros. Ele recebeu um julgamento injusto e os detalhes de sua tortura foram corroborados por uma comissão de inquérito independente”, diz Lawlor.  Ela exortou sua soltura imediata: “sua família está fragmentada, deslocada e sofreu muito nos últimos dez anos; seria um ato honroso e compassivo permitir que eles se reunissem”.

 

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