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A vida e a liberdade das mulheres sob ataque feroz

Mulheres egípcias da Irmandade Muçulmana. vestidas de branco e segurando rosas, na engradado dos réus, durante seu julgamento no tribunal na cidade nediterrrânea egípcia de Alexandria. Em 7 de dezembro de 2013. [AFP/Getty Images]

A segunda produção árabe da Netflix, a minissérie intitulada Al Rawabi School for Girls,  (Escola Rawabi para Garotas, na tradução literal0 certamente não fala de uma situação nova dentro da sociedade jordaniana ou árabe.

O bullying que está no foco da série pode parecer estranho aos valores propagados pela sociedade jordaniana, mas o drama exibido reflete uma situação existente e está aumentando na ausência de combate governamental a problemas de corrupção moral e financeira, que se refletem na sociedade.

As notícias sobre a violência contra as mulheres estão aumentando no mundo árabe. Na quinta-feira (16), uma garota de 28 anos morreu depois que seu marido a queimou com querosene na frente de seus três filhos.

Em 2018, a mesma cena se repetiu com uma menina na cidade de Balqa – Jordânia, após uma disputa familiar.

Ao mesmo tempo, um jovem criminoso matou sua irmã, Dylan Abdel Rahman, de 21 anos, com tiros no peito, porque ela foi despejada da casa de seu marido, “seu primo” em al-Hasakah, nordeste da Síria , para a casa de seu pai. Ela havia pedido o divórcio no desejo de se livrar de um casamento no qual se sentia injustiçada e ameaçada nas mãos de um criminoso. Ela esperava por um refúgio, mas foi assassinada por isso.

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Esses crimes são exemplos da ignorância dos que procuram razões para justificar o feminicídio e  ou tentam tratá-los como casos raros e naturais.

As mulheres árabes  lutam para melhorar seu status em uma sociedade que sofre com as tradições opressivas. E apontam a necessidade urgente de enfrentar a ignorância enraizada  em almas e mentes machistas e degeneradas.

Frente aos crimes de violência contra as mulheres, lideranças políticas, acadêmicas e sociais  precisam se colocar na linha de frente das denúncias sobre a sua gravidade e a necessidade de punição mais severa, para impedir que outros criminosos se sintam no direito de intimidar, violentar e matar mulheres.

No Egito, em agosto deste ano, um homem queimou sua esposa e três de suas filhas na tentativa de obter o dinheiro de seu apartamento para se casar com outra mulher.

O povo árabe tem mostrado sua preocupação com as mulheres, denunciando essa violência hedionda,  e defendendo que elas ocupem seus papéis na vanguarda da sociedade.  A indignação frente a esses crimes indica que está em curso uma mudança radical no conceito de mulher entre a geração mais jovem.

Mas as mudanças são difíceis quando a causa dos crimes está nos governos coloniais e capitalistas que tornam a vida do indivíduo no Oriente Médio um inferno. Suas políticas repressivas e omissões dão margem ao extremismo,  o bullying,  a violação das mulheres, o assassinato de crianças e a violência injustificada. As prisões no Egito são um exemplo do pesadelo.

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De acordo com relatórios internacionais de direitos humanos, há mais de 120.000 detidos nas prisões de Sisi.  Entre os casos relatados de cerca de 135 mulheres presas, 26 estão sujeitas a desaparecimento forçado, periodicamente submetidas a extorsão, humilhação e estupro. Os agentes do Estado nas prisões cometem violações impunemente, com agressões e insultos intencionais à dignidade das presas.

Conforme os relatos, as vistorias são formas de assédio sexual, com atos como os de  “tocar deliberadamente as partes íntimas do corpo feminino”, apesar da existência de alternativas, como os  detectores eletrônicos de uso mais adequado neste contexto.

Infelizmente, a violência contra as mulheres é, antes de uma forma individual, um crime sistemático por parte do Estado. Sem governos eleitos democraticamente, sistemas de justiça independentes, políticas de combate ao feminicídio, fim da impunidade e responsabilização das autoridades pelas políticas necessárias de proteção e educação, a violência contra as mulheres não vai parar. E tende a aumentar.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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