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A ONU está apenas ‘profundamente preocupada’ em proteger Israel

Palestinos inspecionam sua casa, depois de ter sido destruída por um ataque aéreo israelense, na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 16 de maio de 2021 [Disse Khatib/AFP via Getty Images]

A ONU está tão “profundamente preocupada” com a invasão israelense aos escritórios da Defesa para Crianças Internacional-Palestina (DCIP), que a declaração oficial tardia dos relatores especiais sugere que Israel – uma ocupação colonial, militar e regime de apartheid – deveria, em vez disso, estar protegendo a organização e seu trabalho. DCIP é, obviamente, uma das ONGs que expõe as violações dos direitos humanos de Israel. Delinear as obrigações de uma potência ocupante, como fez a ONU, não serve, portanto, a nenhum propósito além de destacar a recusa da ONU em agir contra Israel, porque não há a menor chance de o governo israelense aceitar as recomendações da organização internacional.

“Uma potência ocupante com um verdadeiro compromisso com os direitos humanos protegeria e encorajaria o trabalho dos defensores dos direitos humanos, e não ostracizaria, assediaria ou silenciaria”, disseram os funcionários da ONU.

O trabalho do DCIP sobre a perseguição de crianças pelo estado israelense e seus colonos ilegais expõe padrões recorrentes que a ONU sabe muito bem que fazem parte de um sistema entrincheirado criado por um regime que viola o direito internacional com impunidade. A distorção na declaração dos relatores também normaliza a impunidade israelense.

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“Estamos cientes das críticas de longa data à falta de investigações transparentes e imparciais sobre as aparentes violações dos direitos humanos palestinos pelos militares israelenses”, declararam. A “consciência” da ONU reside na “crítica”, e não nas violações dos direitos humanos cometidas por Israel que são condenadas por investigações imparciais. É típico da ONU encobrir as violações dos direitos humanos para se concentrar em uma lasca de suas consequências, embora sem ramificações para Israel.

O alvo e a prisão de crianças palestinas tem sido uma política israelense constante [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Citar “violações aparentes” serve apenas como uma premissa para lançar a retórica sobre as obrigações do ocupante, que não são implementadas nem aplicadas. Sem uma afirmação comprometida de que Israel está de fato cometendo violações, haverá menos obrigação de intervenção da comunidade internacional. Daí a crescente discrepância entre o direito internacional e a manutenção de tal legislação, que também se manifesta na recusa da ONU em responsabilizar Israel por qualquer coisa.

Além disso, a falta de transparência da ONU no que diz respeito às violações dos direitos humanos de Israel também se reflete na maneira como trata as organizações de direitos humanos que tentam alertar sobre a violência colonial desenfreada contra os palestinos. Não há reciprocidade por parte da ONU em relação ao DCIP, por exemplo, quando se trata do trabalho inestimável que a organização tem feito nas tentativas de salvaguardar os direitos das crianças palestinas.

Pelo contrário, o desequilíbrio é tal que se espera que as organizações de direitos humanos se refiram à ONU e, no processo, reforcem a legitimidade da instituição internacional que ainda não respondeu por seu papel na criação de Israel. Das crianças palestinas mortas por soldados e colonos israelenses, ou julgadas em tribunais militares de Israel ou mantidas em prisões israelenses, a ONU não expressa nenhuma preocupação significativa, na mesma linha que se recusou a aceitar que Israel foi fundado na limpeza étnica de palestinos de 1948 em diante.

A ONU sabe que Israel não está comprometido com a proteção dos direitos humanos; nesse sentido, as duas entidades compartilham uma agenda comum. Longe da retórica usual que os funcionários da ONU pronunciam quando são encurralados em fazer um pronunciamento, a imagem que continua emergindo é a de uma organização que busca proteger Israel a todo custo. É aí que residem as “profundas preocupações” da ONU.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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