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A violência colonial de Israel e a ajuda humanitária internacional

Palestino carrega um saco de farinha sobre os ombros, após a chegada de doações da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), no campo de refugiados de Jabalia, norte da Faixa de Gaza, 29 de janeiro de 2020 [Mahmud Hams/AFP via Getty Images]
Palestino carrega um saco de farinha sobre os ombros, após a chegada de doações da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), no campo de refugiados de Jabalia, norte da Faixa de Gaza, 29 de janeiro de 2020 [Mahmud Hams/AFP via Getty Images]

Sempre que Israel bombardeia Gaza, espera-se que países doadores remexam em seus tesouros e gerenciem a subsequente crise humanitária. O rescaldo da última agressão colonial israelense ao território sitiado não é diferente. Por um lado, a reconstrução de Gaza provavelmente seguirá mecanismos já estabelecidos, conforme os quais a Organização das Nações Unidas (ONU) exerce um papel determinado por Israel. Para as demandas mais imediatas do povo palestino — em situação mais precária do que jamais esteve —, o governo israelense busca países dispostos a aliar-se ao Catar para ajudar famílias desesperadas.

Número de mortos em ataques israelenses na Faixa de Gaza continua aumentando...- Desenho animado [Sabaaneh/MiddleEastMonitor]

Número de mortos em ataques israelenses na Faixa de Gaza continua aumentando…- Desenho animado [Sabaaneh/MiddleEastMonitor]

Dois países europeus se apresentaram até então: Alemanha e outro ainda não divulgado. Israel tenta explorar a reconstrução para exigir a soltura de dois civis israelenses e a liberação dos corpos de dois soldados israelenses capturados pelo Hamas. As organizações palestinas repudiaram a demanda e comunicaram sua decisão à ONU no último mês.

Até agora, o único dilema proposto pela comunidade internacional é a questão de reconstruir Gaza sem envolvimento do Hamas, sob pretexto de assegurar que recursos e materiais sejam utilizados apenas em âmbito civil pelo povo palestino. Para implementar tal estratégia, a Autoridade Palestina — órgão conhecido por sua corrupção mesmo entre doadores que continuam a financiá-lo — deveria exercer um papel ao lado de Israel. De fato, a autoridade em Ramallah contribui para a crise humanitária de Gaza ao impor suas próprias sanções para desestabilizar o Hamas e reduzir seu apoio político e sua influência. A Autoridade Palestina não está em posição de garantir que a ajuda chegue à população mais carente, sem que oficiais primeiro arrecadem sua “parte” — é ingênuo crer no contrário.

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Dado que a comunidade internacional equipara os palestinos com a assistência humanitária, pouco se questiona sobre as expectativas de que outros países reconstruam Gaza após bombas israelenses destruírem vidas e infraestrutura. Também aterrador é o fato de que a comunidade internacional não contesta o paradigma de arrumar a casa após a chacina israelense. É mais do mesmo: os Estados Unidos pagam pelas bombas; outros pagam para limpar a bagunça.

Bilhões de dólares em ajuda militar desfiguraram Gaza para além de qualquer esperança de reconstrução adequada, com ataques aéreos israelenses cada vez mais frequentes. A comunidade internacional, cega como é pela distorcida narrativa de segurança da ocupação colonial, não hesita em permitir que o território costeiro seja utilizado como campo de teste de novas armas, à medida que os palestinos nada mais são do que elementos isolados de uma narrativa assistencial, lucrativa tanto para o colonizador quanto para estados doadores.

A ajuda humanitária deveria ser um esforço temporário, não parte integrante do projeto de colonização. Quando se agrava a crise humanitária, Israel busca silenciar os palestinos através de aliados europeus — os mesmos que supostamente defendem o estabelecimento de um “estado palestino viável e independente”.

Neste entremeio, via doações em troca de silêncio, a assistência humanitária efetivamente concede mais benefícios a Israel do que incentivos à população nativa. A política humanitária concentra-se, na prática, em impedir a emergência de um estado palestino. Em Gaza, o socorro enviado após a destruição da infraestrutura local mantém os palestinos concentrados na mera sobrevivência imediata, relegando qualquer ação política a outro momento.

Sem apontar a responsabilidade de Israel, parece não haver problemas em recrutar países para reparar os danos de suas bombas e sua política de limpeza étnica sobre os palestinos. Apelos por justiça e sanções contra o estado colonial de assentamentos ilegais são ignorados. Quando governos estrangeiros se propõem a remeter ajuda financeira a Gaza, deixemos claro: a fachada humanitária não compensa os danos políticos impostos pela colaboração com os massacres de Israel.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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