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Relembrando a ascensão de Bashar al-Assad a Presidente da Síria

Presidente sírio Bashar Al-Assad participa Cúpula Árabe, 28 de março de 2007 em Riad. [Hassan Ammar/ AFP via Getty Images]
Presidente sírio Bashar Al-Assad participa Cúpula Árabe, 28 de março de 2007 em Riad. [Hassan Ammar/ AFP via Getty Images]

Em 17 de julho de 2000, Bashar al-Assad assumiu o cargo de Presidente da República Árabe Síria. Figura tímida e amplamente desconhecida, em seu discurso inaugural ao parlamento, Assad convocou todos os cidadãos sírios a participar do “desenvolvimento” e “modernização” do país. Entretanto, esperanças de que o novo presidente levaria a uma nova era de reforma tiveram vida curta. Dentro de um ano após assumir o governo, os anseios de ativistas da sociedade civil pela abertura da Síria aos direitos humanos, à democracia e à liberdade de expressão foram aprisionados. A repressão logo no início de sua presidência passaria a caracterizar seu regime.

O que: Bashar al-Assad torna-se Presidente da Síria

Quando: 17 de julho de 2000

Onde: Damasco, Síria

Contexto

A história da ascensão de Bashar al-Assad ao poder nos recorda das peças de Shakespeare. Assad não estava destinado a herdar o trono. Era apenas o segundo filho do brutal líder sírio Hafez al-Assad, que governava o país mediterrâneo com mão de ferro e uma extensiva rede de polícia secreta. Bashar estava destinado a uma vida em relativa obscuridade. Seu irmão mais velho, Bassel, era o primeiro na linha de sucessão para substituir o pai e preparou-se quase a vida toda para tanto.

Após graduar-se médico na Universidade de Damasco, em 1988, Bashar al-Assad mudou-se para Londres para estudar oftalmologia e treinava no Hospital Oftalmológico de Londres Oeste, quando, em janeiro de 1994, foi levado às pressas de volta a Síria após a morte de Bassel, em um acidente de carro. A morte do irmão significava agora que Bashar seria o próximo na linha sucessora e que seu pai teria de começar a prepará-lo para assumir a presidência, o que incluia o comando do Exército da Síria no Líbano.

Em 10 de junho de 2000, Hafez al-Assad sofreu um ataque cardíaco e morreu enquanto falava com líder libanês Selim Hoss. Sua morte repentina surpreendeu a muitos e tensões tomaram conta da Síria às vésperas de seu funeral. Autoridades da Síria temiam que o irmão do falecido presidente, Rifaat al-Assad, tentasse retornar a Damasco e assumir o trono. Rifaat fora exilado na Europa, após tentar depor Hafez, em 1984, quando o presidente começou a apresentar problemas de saúde. Embora o establishment sírio apoiasse Bashar como sucessor de seu pai, havia um problema: a constituição requeria idade mínima de 40 anos para qualquer candidato presidencial. Bashar tinha apenas 34 anos, de modo que o parlamento sírio teve de emendar a constituição para permitir que assumisse o poder.

Bashar al-Assad tomou posse como Presidente da Síria em 17 de julho de 2000. Em dezembro do mesmo ano, casou-se com Asma Akhras, cidadã de origem síria, formada em ciências da informática e nascida no Reino Unido.

LEIA: EUA impõem sanções contra Assad e esposa da Síria sob o “Caesar Act”

Como presidente

Embora muitos guardassem esperanças de reformas no sistema político sírio – ponto de vista estimulado por apelos de cidadania e desenvolvimento feitos por Assad –, a reforma política de fato permaneceu inatingível. Aqueles que responderam aos chamados de Assad para ajudar o país foram silenciados ou aprisionados dentro dos primeiros doze meses de seu governo. Porém, houve mudanças significativas na esfera econômica do país, à medida que o novo presidente optou pelo neoliberalismo e decidiu abrir o capital de muitas indústrias estatais a empresas privadas. Uma nova elite econômica desenvolveu-se sob sua liderança; a maioria de seus membros eram relacionados ao presidente ou associados à sua família.

A política internacional de Bashar al-Assad reverteu alguns dos ganhos de seu pai. O exemplo mais notável foi a perda do Líbano, ocupado por tropas sírias desde 1976, junto de forças de apoio da Liga Árabe e das Nações Unidas. O Líbano já estiveram envolto em guerra civil, entre 1975 e 1990, e foi convencido de que a Síria poderia ajudar a trazer estabilidade ao país vizinho. A Síria, portanto, tornou-se potência hegemônica mediadora no Líbano e todas as decisões políticas majoritárias passaram a ser feitas em Damasco.

Assim continuou até 2005, quando o Primeiro-Ministro do Líbano Rafik Hariri foi morto por uma massiva explosão de um carro-bomba. Suspeitas do assassinato recaíram sobre a Síria. A pressão internacional e a ameaça de sanções forçaram Bashar a retirar suas tropas do Líbano, o que representou enorme perda ao regime. Além disso, durante a ocupação dos Estados Unidos no Iraque, entre 2003 e 2009 a Síria foi rotineiramente acusada de dar trânsito a extremistas jihadistas que atravessam a fronteira ao território iraquiano, o que isolou Damasco ainda mais.

Em 2011, protestos eclodiram na cidade de Daraa, sul da Síria, após crianças em idade escolar serem detidas por forças de segurança por pichar algumas paredes. Os meninos foram torturados e residentes locais passaram a exigir sua soltura. As forças de segurança, ao contrário, optaram por reprimir violentamente as manifestações o que transformou protestos civis em um levante em escala nacional.

A Primavera Árabe varria Tunísia, Egito, Bahrein, Líbia e Iêmen. Em cada país, manifestantes reivindicavam a renúncia de seus respectivos presidentes para substituí-los por sistemas democráticos. A violenta repressão contra os manifestantes em Daraa trouxe a Primavera Árabe à Síria.

Bashar al-Assad respondeu a todos os protestos civis ao longo do país com severa violência, a princípio cometida por forças de segurança, e então pelo próprio exército. Sua resposta extrema levou a Síria à guerra civil, combatida até hoje.

Resultado

O governo de Bashar al-Assad deixou a Síria em ruínas. Centenas de milhares de pessoas foram mortas, milhões deslocadas, e suas casas e infraestrutura foram destruídas. O regime de Assad foi acusado de utilizar armas químicas contra seu próprio povo, o que nega.

Tropas estrangeiras estão engajadas em ambos os lados da guerra. Rússia e Irã apoiam o regime de Assad; a Turquia assumiu a oportunidade para lidar com os separatistas curdos e coordenar com a Rússia um esforço para supostamente proteger civis na província de Idlib, noroeste da Síria, considerada a último posto da oposição síria. Uma coalizão internacional ostensiva liderada pelos Estados Unidos também se envolveu periodicamente, ao longo dos últimos nove anos. A situação em campo na Síria complicou-se ainda mais pela emergência do “Califado” do Daesh (Estado Islâmico) e de grupos filiados à Al-Qaeda.

A economia da Síria foi destruída e o valor da moeda nacional está em queda livre. Presidindo sobre todo este caos, Bashar al-Assad mantém o poder. Chamados por sua renúncia foram ignorados, à medida que a comunidade internacional tenta encontrar uma solução política com ou sem Assad. Até então, os esforços não obtiveram êxito e parece que Bashar al-Assad será Presidente da Síria, ao menos, pelo futuro próximo.

Assad e o regime sírio cometeram crimes de guerra [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Assad e o regime sírio cometeram crimes de guerra [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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