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Catar expulsa ilegalmente trabalhadores do Nepal, denuncia Anistia Internacional

16 de abril de 2020, às 12h24

Trabalhador do Nepal em sua residência em um campo de trabalhadores imigrantes na cidade de Doha, Catar, em 3 de maio de 2015 [Marwan Naamani/AFP/Getty Images]

Trabalhadores imigrantes no Catar foram expulsos do país arbitrariamente após serem informados de que passariam por exames para diagnosticar o novo coronavírus, revelou a ong de direitos humanos Anistia Internacional. O governo em Doha negou as acusações.

A polícia catariana apreendeu centenas de imigrantes nepaleses no último mês e os expulsou ilegalmente do país, segundo relatos corroborados por vinte homens em entrevista à Anistia Internacional. Os trabalhadores imigrantes foram convocados para testes de covid-19 e supostamente retornariam em seguida às suas acomodações.

Entretanto, os exames para coronavírus mostraram-se um meio para ludibriar os trabalhadores e detê-los por dias, antes de deportá-los ao Nepal.

“Nenhum dos homens com quem falamos recebeu qualquer explicação sobre a razão pela qual foram tratados desta maneira, tampouco tiveram a oportunidade de contestar sua prisão ou expulsão”, afirmou Steve Cockburn, vice-diretor da Anistia Internacional para Assuntos Globais.

“Após passar dias em condições de detenção desumanas, muitos não tiverem sequer a chance de coletar seus pertences antes de serem postos em aviões com direção ao Nepal”, denunciou Cockburn. O oficial da Anistia reivindicou ainda o pagamento de “salários e benefícios devidos”.

Em sua resposta às alegações de insídia e expulsão ilegal, o governo em Doha afirmou ter repatriado trabalhadores imigrantes “engajados em atividades ilícitas”, descobertas durante investigações conduzidas justamente para conter a propagação do coronavírus.

“Indivíduos que traficavam bens ilegais ou perigosos foram repatriados a seus países de cidadania, de acordo com o sistema legal do Catar”, declarou o governo em comunicado oficial.

Ao contestar as alegações, Doha ainda afirmou que foi descoberto envolvimento dos imigrantes em questão na venda “de bens alimentares perigosos que poderiam ameaçar gravemente a saúde das pessoas, caso consumidos”.

O governo prosseguiu: “Há hoje mais de 400.000 cidadãos do Nepal residindo e trabalhando no Estado do Catar. Absolutamente todos possuem acesso a testes grátis para o coronavírus; aqueles que testam positivo recebem tratamento médico da mais alta qualidade sem custo algum.”

Entretanto, trata-se apenas do último relato dentre diversas denúncias da Anistia Internacional em relação aos trabalhadores imigrantes no Catar. Em 2019, a organização publicou uma investigação bastante comprometedora sobre as falhas de Doha em cumprir promessas feitas para dar fim às violações de direitos dos trabalhadores imigrantes residentes no país.

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