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Movimento popular argelino continua pela 44ª sexta-feira consecutiva com desobediência civil

Argelinos realizam manifestação exigindo que oficiais do governo que permaneceram no cargo mesmo após a deposição do ex-presidente Abdelaziz Bouteflika renunciem, em Argel, Argélia, 4 de outubro de 2019 [Mustafa Hassona/Agência Anadolu]

Manifestações de massa eclodiram em diversas cidades argelinas, exigindo uma mudança radical no sistema político no país pela 44ª sexta-feira consecutiva. Nesta ocasião, os protestos ocorreram em resposta à cerimônia de posse do presidente recém-eleito Abdelmadjid Tebboune, que prometeu atender as demandas do movimento popular.

Milhares de argelinos tomaram as ruas de diversas cidades após as orações de sexta-feira, em um movimento que manteve sua força desde o princípio, em 22 de fevereiro deste ano. Os manifestantes reiteraram as demandas por mudança, sob a convicção de que Tebboune é um resquício do antigo regime argelino do presidente deposto Abdelaziz Bouteflika.

Os manifestantes entoaram palavras de ordem e reafirmaram a preservação do movimento popular, ao dizer: “Não recuaremos”, “Fora o regime”, “Não debateremos com falsários” e “Não vamos parar!”.

Ativistas argelinos divulgaram um vídeo bastante divulgado na Internet. No registro, uma pessoa em meio às manifestações, no centro da capital Argel, agarra-se ao Alcorão e realiza uma promessa: “Juro a Deus todo poderoso que não trairei o movimento, o povo, a pátria, Argélia.” Em seguida, a multidão repete sua promessa em uníssono, um ato bastante simbólico após o juramento de posse do novo presidente.

As manifestações populares continuam desde o início do movimento, em 22 de fevereiro de 2019. Entretanto, nesta sexta-feira, foram consideradas particularmente envoltas pela conjuntura política, ao ocorrer um dia depois da cerimônia de posse do vencedor das eleições presidenciais realizadas no último dia 12 de dezembro.

Em seu discurso inaugural na quinta-feira (19), Abdelmadjid Tebboune reafirmou que sua eleição é “um dos frutos do abençoado movimento popular, iniciado por nosso nobre povo, quando este sentiu em sua consciência a necessidade de uma mudança nacional, a fim de interromper o colapso do estado e de suas instituições.”

Abdelmadjid Tebboune, Presidente da Argélia recém empossado, realiza uma coletiva de imprensa em Argel, Argélia, 13 de dezembro de 2019 [Farouk Batiche/Agência Anadolu]

Segundo Tebboune, parte das demandas do movimento já foram alcançadas com a participação do exército: “E garanto meu compromisso para cooperar com todos a fim de cumprir com as demais demandas, dentro do panorama do consenso nacional e das leis da república.”

Tebboune também prometeu “realizar emendas na Constituição, pedra fundamental de uma nova república, logo nos primeiros meses, senão nas primeiras semanas, a fim de cumprir com as exigências do povo expressadas pelo abençoado movimento popular.”

O novo presidente ainda reiterou seu apelo por diálogo como meio para alcançar as mudanças tão desejadas. Este chamado dividiu os manifestante entre aqueles que o rejeitam, sob a alegação de que provém de um regime ilegal, e aqueles que estipularam condições para participar de tais diálogos, por exemplo, a libertação dos presos detidos nos últimos meses de protestos.

Como parte das medidas tomadas para atenuar os ânimos do público, Tebboune desonerou nesta quinta-feira o então primeiro-ministro, Noureddine Bedoui, em resposta às reivindicações do movimento popular que pediam sua deposição. Bedoui foi substituído pelo Ministro de Relações Exteriores Sabri Boukadoum, incumbido de administrar um governo provisório. Tebboune também dispensou o Ministro do Interior Salah Eddine Dahmoune, diante de declarações de opositores – e mesmo candidatos nas eleições presidenciais recentes – que pediam pela necessária continuação do movimento popular a fim de implementar efetivamente todas as mudanças necessárias ao sistema político da Argélia.

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