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Exército e políticos de Israel estão divididos sobre uma trégua de longo prazo em Gaza

29 de novembro de 2019, às 16h27

Civis palestinos inspecionam os escombros de um edifício após ataques aéreos israelenses atingirem a área residencial de Khan Yunis, em Gaza, 14 de novembro de 2019 [Ali Jadallah/Agência Anadolu]

O Exército de Israel e seus oficiais políticos estão divididos sobre a questão de uma trégua duradoura com as facções palestina na Faixa de Gaza ocupada, relatou o jornal israelense Haaretz.

Segundo Amos Harel, correspondente militar do jornal, o “ponto de vista do exército” é que o Hamas “está preocupado principalmente com as condições intoleráveis de vida” no território sitiado.

O Exército de Israel, portanto, “recomendou ao governo que considere reintroduzir medidas econômicas atenuantes de longo alcance sobre a Faixa de Gaza.” Os militares acreditam que o Hamas deseja “um cessar-fogo de longa duração… contingencial para o lançamento de diversos projetos de infraestrutura”.

Tais projetos incluem “melhorar o fornecimento de energia elétrica a Gaza, construir um hospital no posto de controle de Erez, aprimorar sistemas de infraestrutura de água e esgoto e dar início à preparação de projetos de revitalização da zona industrial no posto de controle de Karni.”

O cerco israelense asfixia a vida em Gaza. Pouco antes de ser imposto, mais de 6.000 caminhos entraram no território litorâneo; no ano seguinte, apenas 33 tiveram a entrada permitida. O cerco contra Gaza custou à sua economia US$ 300 milhões apenas em 2018.

Entretanto, o governo israelense não parece estar de acordo com os oficiais militares, tanto como resultado da atual paralisia política que toma conta do país, quanto devido à posições de linha dura assumidas por ministros do governo. Por ora, apenas medidas bastante modestas estão sendo implementadas – como a extensão da zona permitida para a pesca.

Segundo o analista israelense Shlomi Eldar, apesar da urgência em implementar medidas para atenuar o cerco ao território palestino, “qualquer suspensão das restrições sobre Gaza deverá esperar até o resultado das novas eleições israelenses e a formação de um novo governo.”

“Israel provavelmente estará atolado neste impasse político, completamente paralisado, no mínimo pelos próximos seis meses. O Hamas não irá esperar,” acrescentou Eldar. “Dadas as condições desesperadoras dos dois milhões de palestinos residentes no território litorâneo … Gaza precisa de muito mais do que cem ou duzentas licenças de trabalho adicionais.”

Embora Eldar especule que Naftali Bennett – Ministro da Defesa de Israel – provavelmente tenha dificuldades em adotar um tom mais moderado, devido à retórica antes adotada em relação à necessidade de uma “solução” militar contra o Hamas e outros grupos, Harel sugere que Bennett possa ser receptivo ao ponto de vista do Exército.

“Em contraste ao Exército, neste contexto, Bennett não utiliza a palavra hasdara (acordo) explicitamente, para evitar a impressão – bem fundamentada – de que está efetivamente ocorrendo neste momento negociações indiretas com o Hamas,” escreveu Harel.

Entretanto, Bennett acredita que “Israel precisa voltar a impor seu poder de influência sobre Gaza por meio de ataques ainda maiores em resposta ao lançamento de foguetes contra o território israelense.”