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A guerra de Israel contra a Jihad Islâmica

Bahaa Abu Al-Ata, figura de destaque na Jihad Islâmica, foi morto por ataques aéreos israelenses executados contra a Faixa de Gaza, em 12 de novembro de 2019

Nesta terça-feira (12), Israel lançou dois ataques simultâneos contra a organização palestina Jihad Islâmica. O primeiro tinha como alvo Bahaa Abu Al-Ata – comandante de alto escalão do braço armado da entidade, a chamada Brigada Al-Quds –, na Faixa de Gaza. O segundo ataque atingiu Akram Al-Ajouri, membro do escritório político do movimento, com sede em Damasco. Abu Al-Ata e sua esposa foram mortas no primeiro atentado; o filho de Al-Ajouri foi morto pelo último.

O Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu assumiu pessoalmente a responsabilidade por ter ordenado ambos os ataques. Naftali Bennett, do partido radical Lar Judaico, e seu relativamente novo chefe de gabinete, General Aviv Kochavi, estavam entre o pequeno grupo por trás das operações. Netanyahu deseja salvar sua própria pele a todo custo, tanto em termos políticos quanto pessoais, mesmo se isso forçá-lo a incitar uma guerra profundamente violenta contra a Faixa de Gaza. O general e o líder do partido Lar Judaico, entretanto, desejam iniciar seus respectivos mandatos com um enorme baque, ao demonstrar o maior nível possível de crueldade e severidade como tentativa de reconstruir o chamado “fator de influência” do Exército de Israel. Kochavi e Bennett não se importariam em obter algum ganho pessoal ou partidário neste processo.

Até o momento da escrita deste artigo, a resistência palestina disparou cem foguetes contra Israel, alcançando o perímetro de Tel Aviv. Artilharia e aviões de guerra israelenses estiveram praticando seu hobby favorito: destruir residências civis na Faixa de Gaza. O fantasma de uma quarta guerra contra os palestinos em Gaza já mostra sua cara feia, a despeito de declarações de trégua emitidas por Netanyahu a oficiais do Hamas e da Jihad Islâmica, via inteligência egípcia.

Sua premissa básica é a seguinte: desejamos uma trégua com os palestinos que não nos impeça de matar seus líderes, quando e onde quisermos. É este o tipo de trégua que Netanyahu quer tão desesperadamente, assim como Bennett, indicado Ministro da Defesa como forma de evitar que o adversário político Benny Gantz fosse capaz de compor um govern minoritário. Netanyahu deseja estabelecer novas regras de engajamento em Gaza, incluindo a ideia de que um acordo de cessar-fogo não impeça que Israel continue a executar ataques e assassinatos unilateralmente.

Neste contexto é preciso questionar-se: o que faz o Egito – mediador – diante disso? Tentará pressionar Netanyahu a respeitar as regras do jogo em relação aos palestinos? Por acaso possui habilidades e ferramentas para tanto? Ou tentará somente convencer os palestinos a permitir que tais ataques ocorram com o mínimo de reações possíveis, a fim de que sintam-se satisfeitos com o que efetivamente têm?

Com eleições daqui a poucas semanas, Israel ataca Gaza – cartum [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Sobretudo, é preciso questionar-se como as facções de resistência em Gaza reagirão após Israel cobrir os céus de ameaças, com o intuito de impor suas novas regras de engajamento. Responderão aos esforços dos mediadores egípcios a fim de agradar o governo no Cairo e preservar seu papel na conjuntura atual, ou deixarão de lado o mediador egípcio até que cumpram suas promessas e ensinem a Israel uma lição como nunca antes vista, como dito, jurado e ameaçado repetidamente?

Netanyahu está morrendo politicamente e precisa de um milagre para salvar a si mesmo de ser indiciado pelo Procurador-Geral de Israel sob acusações de corrupção, fraude e abuso de poder. Uma guerra em Gaza pode ser boa para ele. Kochavi, que promove a teoria de “destruição sistemática do inimigo”, precisa de uma oportunidade para traduzir sua tese em prática; o general deseja derrotar os palestinos e não apenas restaurar a imagem de dissuasão do exército ocupante. Naftali Bennett é originário da escola de pensamento “árabes são como baratas” e não esconde seu entusiasmo em utilizar os poderes de sua nova posição para cumprir seus sonhos sombrios de assassinar e deslocar mais e mais palestinos. A decisão sobre guerra ou paz está nas mãos destes três indivíduos e cada um deles possui uma “boa” razão no horizonte para atirar gasolina no incêndio que já assola Gaza.

Israel está às vésperas de mais uma rodada de Eleições Gerais, a terceira em doze meses, e uma guerra absoluta contra Gaza pode ser a chave para Netanyahu e Bennett aumentarem sua popularidade diante das intenções de voto. Os palestinos em Gaza, entretanto, possuem uma perspectiva diferente sobre o assunto e estão ansiosos para provar que não são meramente um saco de pancadas, mas capazes de virar o feitiço contra o feiticeiro.

Este artigo foi publicado inicialmente em árabe, no jornal Addustour, em 13 de novembro de 2019

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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