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Agricultores israelenses lamentam o fim de um acordo de terras com a Jordânia

Área de Al-Baqura, perto do Vale do Jordão [Wikipedia]

 

Foi uma colheita amarga para alguns dos agricultores israelenses na fronteira com a Jordânia. No domingo (10), um acordo de 25 anos, entre Israel e o país árabe, que lhes permitia cultivar terras no local oficialmente expirou, informou a agência de notícias Reuters.

Sob o acordo, parte do tratado de paz entre Israel e Jordânia de 1994, duas regiões fronteiriças foram reconhecidas como territórios de soberania jordaniana, todavia com condições especiais para permitir que fazendeiros israelenses trabalhassem no local, além de autorizar que turistas visitem o parque da Ilha da Paz, na região do Rio Jordão.

Entretanto, em 2018, a Jordânia anunciou que não lhe interessava renovar o acordo, em um movimento visto amplamente como um sinal de tensões cada vez maiores nas relações diplomáticas com Israel.

O Rei Abdullah da Jordânia declarou formalmente no domingo (10) o fim do regime especial referente ao local de fronteira, após 25 anos de concessão, visto por muitos jordanianos como uma humilhação que perpetuava a ocupação israelense sobre seu território.

“Anuncio o fim do trabalho no anexo especial nas áreas de Ghumar e Baqoura, estabelecidos por um acordo de paz, e imponho nossa soberania a cada centímetro de nossas terras,” afirmou o rei em discurso oficial, que marcou o início de uma nova sessão do parlamento da Jordânia. Obteve como resposta ruidosos aplausos de congressistas e oficiais jordanianos.

Para os israelenses que cultivam terras no local, o vencimento do acordo é um golpe severo.

“É como um soco na cara,” declarou Eli Arazi, 74 anos, fazendeiro cujo kibbutz (comunidade agrária) trabalhava sobre uma das porções de terras de Baqoura, chamada em hebraico de Naharayim (“dois rios”).

A região abrange o afluente dos rios Jordão e Yarmouk. Israelenses alegam possuir direitos de propriedade no local com base em traços datados da década de 1920, quando o território era parte do mandato britânico sobre a Palestina.

Arazi afirmou que seu kibbutz – Ashdot Yaacov Meuhav – cultiva plantações no local por mais de setenta anos, incluindo oliveiras, bananas e abacates.

Conforme o tratado de paz de 1994, foi garantida a soberania jordaniana sobre a área, à medida que israelenses mantiveram posse particular sobre porções de terras e concessões especiais que lhes permitiam viajar livremente pela região.

A Jordânia confirmou que continuará a respeitar a propriedade de terras privadas de israelenses em Barouqa (Naharayim), informação corroborada por oficiais de ambos os países.

Contudo, sem as concessões especiais a cidadãos israelenses, os agricultores agora enfrentam os obstáculos comuns à travessia de fronteiras, o que consequentemente dificulta seu trabalho.

Na segunda porção de terras, Ghuram (Tzofar), mais ao sul, todos os termos do acordo efetivamente se encerraram. Entretanto, o Ministério de Relações Internacionais de Israel declarou: “O governo da Jordânia permitirá que fazendeiros israelenses cultivem os produtos plantados antes das concessões expirarem.”

‘Discussões em andamento’

A Jordânia é um dos dois únicos estados árabes a manter um acordo de paz com Israel. Os dois países fronteiriços preservam uma longa história de relações próximas em termos de segurança. O tratado, porém, é bastante impopular na Jordânia, onde o sentimento pró-Palestina é generalizado.

O fim do acordo de terras surge como um ponto baixo nas relações israelo-jordanianas. Uri Ariel, Ministro da Agricultura de Israel, declarou à agência Reuters: “Não estamos em uma lua de mel, mas sim em um período de discussões em andamento.”

Recentemente, o governo de Amã demonstrou indignação pela promessa eleitoral do então Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu de anexar o Vale do Jordão.

Nos últimos anos, um impasse ao processo de paz israelo-palestino e disputas em torno do complexo de Jerusalém, sagrado para judeus e muçulmanos, aprofundou as tensões nas relações entre Israel e Jordânia.

Uri Ariel responsabilizou o governo israelense, ao afirmar que deveria ter antecipado as tentativas de convencer a Jordânia a estender o acordo.

 

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