Arábia Saudita transfere Salman Ouda para Riad e adianta julgamento

Autoridades sauditas transferiram inesperadamente clérigos e acadêmicos detidos no país à capital Riad, a fim de prepará-los para julgamento.

Abdullah Al-Ouda, filho do proeminente professor Salman Al-Ouda, compartilhou hoje em sua página no Twitter que as autoridades surpreenderam a família do preso político ao transferí-lo rapidamente à capital, após adiantar a data de sua audiência em mais de um mês.“Hoje, minha família na Arábia Saudita amanheceu surpresa, ao receber um telefonema da administração penitenciária para informá-los de que meu pai foi logo transferido à capital para sua audiência, que foi adiantada,” escreveu Abdullah. Ele reiterou que o incidente ocorreu a despeito do fato da “data original [da audiência] estar prevista para mais de um mês. Peço a Deus que o ajude e ajude a todos os outros.”

Salman Al-Ouda já foi um dos mais populares estudiosos do Islamismo no reino saudita; contudo, defendia medidas mais democráticas e reformas políticas, quando então foi detido pelas autoridades sauditas, em setembro de 2017, após compartilhar em seu Twitter uma mensagem que pedia pelo fim do bloqueio saudita ao Catar e pela reparação das relações diplomáticas com o estado do Golfo.

Em agosto, Abdullah escreveu ao jornal britânico The Guardian: “Meu pai pede reformas na Arábia Saudita. Agora enfrenta a morte … Está mantido em confinamento solitário, onde permanece até hoje. Foi maltratado, algemado, vendado e acorrentado à sua cela; negam-lhe o sono e seus medicamentos – tanto que, após cinco meses de detenção, teve de ser levado ao hospital.”

“Dezessete membros de minha família estão proibidos de viajar; meu tio Khalid foi preso porque comentou sobre meu pai em suas redes sociais. A embaixada saudita em Washington pediu que eu retornasse à Arábia Saudita para ‘renovar meu passaporte’, que foi então congelado,” esclareceu Abdullah, que reside nos Estados Unidos.

A prisão de Salman Al-Ouda é somente um dos inúmeros casos tão comuns na Arábia Saudita nos últimos anos; é parte de uma repressão sistemática em curso contra dissidentes ou qualquer forma de crítica ao governo e às suas políticas domésticas e internacionais. O caso de Al-Ouda também contrasta com uma nova imagem proposta por reformas sociais abrangentes conduzidas pelo príncipe herdeiro Mohammad bin Salman – governante de fato do país –, as quais têm por objetivo minimizar a dependência nacional em relação aos dólares de petróleo, encorajar o turismo e o investimento e diversificar a economia.

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