Mais um médico de Gaza é assassinado durante o trabalho por Israel, mas não se espera justiça

Foi um momento bastante difícil para a esposa de Mohammad Al-Judaily quando foi informada de que ele sucumbira aos seus ferimentos. O paramédico possuía 37 anos de idade quando foi baleado no rosto por um franco-atirador israelense enquanto oferecia primeiros-socorros a manifestantes da Grande Marcha do Retorno, em Gaza, em 3 de maio deste ano.

“A princípio,” explicou Muna, 31, “quando soube que ele foi baleado enquanto trabalhava, pensei que ele voltaria para casa ainda no mesmo dia porque me disseram que era uma bala de borracha. Fiquei chocada quando ele morreu; tinha muita esperança de que ele se recuperasse e voltasse para a casa.”

Mãe de quatro filhos, ela passou muito tempo ao lado da cama do marido, sonhando com seu retorno para brincar com suas crianças. Não foi o que ocorreu.

Al-Judaily trabalhava com o Crescente Vermelho Palestino (CVP). No dia fatal, no início de maio, o paramédico trabalhava em uma equipe de emergência destinada ao local de protesto de Abu Safiyeh, a leste da cidade de Jabalia, na porção norte de Gaza.

“Eu o pedi para ficar em casa e descansar naquela sexta-feira,” afirmou Muna. “Era a primeira vez que eu pedia isso a ele desde o início dos protestos, no ano passado, mas ele insistiu em ir ajudar os manifestantes. Ele insistiu que todos devem ser leais ao seu trabalho e aos seus colegas.”

Quando lhe contaram que o marido foi baleado por uma bala de borracha, Muna correu ao hospital. “A borracha era somente cobertura para uma bala de metal,” ela esclareceu. “Levaram-no às pressas para o Hospital Al-Shifa onde os médicos descobriram fraturas em seu rosto. O diagnóstico, no entanto, dizia que não eram ferimentos com risco de morte.” Porém, Al-Judaily teve uma crise hemorrágica que durou três dias, então a equipe médica o pôs sob terapia intensiva e o transferiu para o Hospital Al-Quds, instituição privada de saúde administrada pela organização onde, de acordo com a viúva, ele começou a melhorar. “Havia cuidado 24 horas providenciado pelos médicos do Comitê de Resistência Popular (CRP) e pelos colegas de Mohammed.”

Em 3 de junho, sua esposa e seus filhos persuadiram Al-Judaily a sair do hospital para passar o feriado de Ei Al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã, com eles em sua casa. “Foi a sua pior decisão,” ela lamentou.

Então, médicos do Hospital Al-Quds e o Ministro da Saúde de Gaza determinaram que o tratamento necessário para Al-Judaily não estava disponível nos hospitais do território sitiado. “Nós o inscrevemos numa lista de transferência e o Ministério da Saúde em Ramallah concordou em pagar por seu tratamento,” declarou o Dr. Murad. “Contudo, as autoridades da ocupação israelense não emitiram permissão para que ele viajasse. A princípio, os médicos recusaram-se, mas após uma série de pedidos feitos por sua esposa, concordaram em dar alta ao paciente por sua conta e risco.”

O filho mais velho de Mohammed, Adel, de 11 anos, afirmou que ele e seus irmãos estavam felizes que seu pai passou o Eid com a família. “Mas na manhã seguinte, ele desmaiou e teve convulsões,” relatou o menino. “Mamãe chamou uma ambulância e os paramédicos chegaram em cinco minutos. Mas o coração dele tinha parado de bater.”

O Dr. Murad afirmou o paramédicos tentaram reanimá-lo por uma hora antes de seu coração recomeçar a bater. Depois disso, decidiram levá-lo de volta ao hospital. No mesmo dia, Al-Judaily foi transferido para o Hospital Al-Ahly Al-Araby, em Hebron, Cisjordânia, mas era tarde demais.

A falta de oxigênio em seu cérebro durante os primeiros trinta minutos da reanimação cardiorrespiratória foi demais para o organismo de Al-Judaily e sua condição deteriorou. Entretanto, Mohammad Al-Judaily foi mantido vivo na UTI do hospital de Hebron até falecer, no início desta semana. Seu corpo foi levado de volta a Gaza, onde dezenas de milhares atenderam ao seu funeral.

O Dr. Murad enfatizou que este consiste em mais um crime de guerra executado por Israel, pois era bastante claro que Al-Judaily era um paramédico, além de estar bastante distante do soldado que o baleou. O CRP, ele afirmou, registrou uma queixa no escritório do Comissariado para Direitos Humanos das Nações Unidas.

Todavia, ninguém espera ver justiça para Muna e suas quatro crianças, a mais nova das quais possui somente sete meses de idade. Al-Judaily foi o quinto paramédico assassinado por forças de Israel durante os protestos da Grande Marcha do Retorno; mais de 500 outros profissionais de saúde foram feridos. Todos vestiam uniformes e símbolos que os identificavam de forma clara como profissionais médicos, mas Israel continua a agir com impunidade, apesar de sua resposta moral e desproporcional aos protestos legítimos.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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