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Oposição sudanesa rejeita plano de transição militar após dia de violência

Sudaneses participam de uma marcha em apoio ao conselho de transição militar em frente ao palácio presidencial de Cartum, capital do Sudão, 31 de maio de 2019 [Mahmoud Hjaj/Agência Anadolu]

Nesta terça-feira, oposição no Sudão rejeitou a proposta dos governantes militares para realizar eleições dentro de nove meses, um dia depois das piores ondas de violência desde a deposição do presidente Omar al-Bashir, em abril deste ano, conforme informações da agência Reuters.

Ao menos 35 pessoas foram mortas na segunda-feira (3) quando forças de segurança investiram contra uma manifestação na frente do Ministério da Defesa, no centro da capital, segundo relatos de médicos ligados à oposição.

O conselho militar que governo desde a deposição de Bashir, logo depois, cancelou todos os acordos com a principal coalizão opositora e declarou a realização de eleições para dentro de nove meses.

Porém, Madani Abbas Madani, um dos líderes da entidade de oposição Forças de Declaração por Liberdade e Mudança, afirmou que uma campanha de desobediência civil continuará a tentar destituir o conselho militar do poder.

A oposição rejeitou todos os itens da declaração do Tenente-General Abdel Fattah al-Burhan, chefe do Conselho de Transição Militar (CTM), segundo Madani. “O que ocorreu, matar, ferir e humilhar manifestantes, foi uma ação sistemática e deliberada para impor sua repressão ao povo sudanês,” ele destacou.

Os líderes dos protestos que, em abril, depuseram Bashir após três décadas de governo autoritário reivindicam que as preparações para as eleições durante o período transicional sejam lideradas por uma administração civil.

Além das pressões internas, o conselho militar também sofre pressões internacionais para ceder seus poderes às organizações civis.

Risco de escalada

A Associação de Profissionais Sudaneses (APS), principal organizadora dos protestos, acusou as forças de segurança de perpetrar “um massacre” ao invadir as manifestações sob uso de armamento pesado.

O Tenente-General Shams El Din Kabbashi, porta-voz do conselho, negou as acusações e alegou que as forças de segurança procuram somente “elementos subversivos” que se infiltraram nos protestos a fim de desorganizá-los.

O Sudão está estremecido desde dezembro, quando a indignação sobre o aumento do preço do pão e a falta de dinheiro em espécie evoluiu para uma série de protestos coordenados que culminaram nas deposição de Bashir pelas forças armadas.

Entretanto, conversas entre as coalizões de protesto e partidos de oposição foram interrompidas devido a diferenças sobre quem deve liderar uma transição para a democracia. Ambos os lados concordam que a transição deverá durar um período de três anos.

Em uma mensagem televisionada na manhã de terça-feira, Burhan, líder do conselho, alegou que a coalizão de oposição é igualmente responsável pelo atraso de um eventual acordo final.

O conselho decidiu cancelar todos os acordos com os grupos de protesto e exigiu a realização de eleições dentro de nove meses. Segundo os militares, os processos eleitorais serão organizados sob supervisão regional e internacional.

“A legitimidade e um mandato de governo não virá senão pela urna eleitoral,” afirmou Burhan. O tenente-general também anunciou que um governo será imediatamente formado para administrar o país até as eleições. Por fim, disse lamentar a violência e prometeu investigações.

A operação de forças de segurança atraiu condenações da Europa, Estados Unidos e União Africana.

Stephane Dujarric, porta-voz da ONU, afirmou ser evidente que os militares utilizaram de força excessiva contra civis. Jeremy Hunt, Ministro britânico de Relações Internacionais, chamou a estratégia de dispersão de “ultrajante”.

A União Europeia exigiu uma rápida transferência de poderes aos civis. O vizinho Egito clamou por “calma e comedimento”, enquanto os Emirados Árabes Unidos (EAU) afirmaram esperar que o diálogo prevaleça no Sudão.

O gabinete estratégico de inteligência e segurança Grupo Soufan alertou que a situação poderá escalar depressa a maior violência. “Há paralelos evidentes a alguns dos protestos da Primavera Árabe que eventualmente progrediram em insurgências generalizadas, incluindo a Síria, onde o ataque indiscriminado contra civis por forças militares inicialmente galvanizou os movimentos de protesto que ampliaram cada vez mais o levante,” registou a entidade em sua análise.

“Há um risco concreto de que a situação possa declinar a uma guerra civil, que afetaria significativamente toda a região; a violência resultante poderá impactar para além das fronteiras, nos conflitos vigentes na Líbia.”

Desde 1993, o Sudão está na lista dos Estados Unidos de países que financiam o terrorismo, o que o impede de participar dos mercados financeiros internacionais e sufoca sua economia.

Washington cancelou um embargo comercial de vinte anos contra o Sudão em 2017. Após a deposição de Bashir e a tomada de poder pelos militares, decidiu retomar as conversas para retirar o país africano da lista dos estados patrocinadores de organizações terroristas.

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