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Mãe e bebê palestinos são reunidos após Israel negar permissão de viagem por seis meses

Bebê em incubadora de uma maternidade [Mahmud Hams/AFP/Getty Images].

 

Uma mãe palestina que viajou a Gaza para enterrar dois de seus três filhos gêmeos foi finalmente reunida com sua única filha sobrevivente, após Israel privá-la de um visto de viagem para retornar ao hospital onde está internada a menina por quase seis meses.

De acordo com informações da emissora israelense Channel 13 divulgadas ontem (28), a mãe palestina – cujo nome não foi revelado – foi levada às pressas ao Hospital Al-Makassed no bairro Al-Tur de Jerusalém Oriental, em janeiro deste ano. A mulher estava grávida de trigêmeos e foi transferida da Faixa de Gaza sitiada ao hospital de Jerusalém para cirurgia.

Embora as três crianças tenham nascido, duas morreram apenas alguns dias após o parto. A mãe teve então de retornar a Gaza para enterrá-las, deixando o bebê sobrevivente – uma menina de nome Shahad – aos cuidados da equipe médica do hospital de Jerusalém.

No entanto, a mãe desde então foi proibida de retornar para a cidade a fim de buscar Shahad devido a sucessivas rejeições de seu pedido para deixar Gaza por parte das autoridades israelenses. Apesar do hospital repetidamente apelar à Autoridade Palestina (AP) para pedir uma licença do COGAT, escritório de Coordenação de Atividades do Governo nos Territórios palestinos, sob jurisdição do Ministério de Defesa israelense, para o retorno da mãe de Shahad a Jerusalém, o requerimento não foi concedido.

Por seis meses, a mãe permaneceu em contato com Shahad por vídeos de celular, relatou o jornal Times of Israel hoje, mencionando a emissora Channel 13. Somente após os esforços da rede de televisão que o COGAD eventualmente concedeu a licença de viagem à mãe, a fim de retornar a Jerusalém, embora não seja claro ainda quando ela poderá fazer a viagem.

As provações vivenciadas pela mãe de Shahad são um traço comum na vida dos palestinos que vivem nos Territórios Palestinos ocupados (TPOs). Palestinos de Gaza, em particular, costumam sofrer pela carência de tratamento médico. Relatos indicam que o sistema de saúde pública da Faixa de Gaza está à beira do colapso devido à escassez de remédios e falta de eletricidade, como resultado do cerco israelense – que já dura 12 anos –, além da enorme demanda de serviços devido aos milhares de pacientes feridos durante a Grande Marcha do Retorno e pelos bombardeios aéreos israelenses no litoral do território.

Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que Israel regularmente submete pacientes palestinos de câncer em Gaza a meses de espera até lhes conceder autorizações para viajar. O relatório da OMS descobriu que: “após serem diagnosticados com câncer, os pacientes em Gaza podem habitualmente ter de esperar por meses antes de poderem receber o tratamento”. E prosseguiu: “Obter permissão para ter acesso à saúde pública fora dos territórios ocupados pode ser um processo imprevisível e estressante, e muitos repetem o requerimento diversas vezes antes de poderem viajar. Mesmo assim, alguns pacientes jamais conseguem as autorizações necessárias ao seu acesso à saúde.”

Israel é obrigado pela lei internacional a garantir o direito de saúde pública aos palestinos. Consistentemente fracassar ou recusar-se em fazê-lo é uma violação flagrante do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, além de transgredir as resoluções da Quarta Convenção de Genebra. Tais leis comprometem Israel, como potência ocupante, ao “dever de garantir e manter […] instalações e serviços médicos, saúde pública e saneamento básico no território ocupado.”

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